Começar por onde – pelo hotel Casa da Calçada, sumptuoso e íntimo, apostado no “charme” que volta connosco para casa em vez do “design” feito para tolerar, consumir e esquecer? Pelo Campo de Golfe de Amarante, sinuoso e compacto, decidido a levar ao pé da letra a promessa de “uma aventura na montanha”? Pelo restaurante Largo do Paço, ao mesmo tempo descontraído e requintado, onde se comem “escalopes de fois gras corado com maçã caramelizada”, “leitão bísaro cozinhado a dois tempos” e “soufflé de tangerina e coentros com pepitas de chocolate guaranda, sopa de baunilha e sorvete de coco”? Ou, antes, pela propriamente dita cidade de Amarante, pequena e bela, pobre e aristocrática, como que revivendo em simultâneo o espartano povoamento original de São Gonçalo, as inapeláveis cheias que um dia derrubaram a Ponte Velha ou a ousada base avançada das tropas aliadas decididas a resistir a Napoleão?
Pois comece-se por onde se quiser: Amarante vale a pena em qualquer circunstância, por qualquer ordem, seja qual for a urgência – o romance, os desportos de aventura, a gastronomia gourmet, o golfe. E, se lhe parece que estamos a falar numa grande cidade, desengane-se já: estamos a falar de uma pequena cidade de onze mil habitantes, rodeada de 40 freguesias com, toda juntas, pouco mais de 45 mil pessoas. Uma pequena cidade com um hotel de cinco estrelas de inatacável reputação internacional. Uma pequena cidade com um campo de golfe cuja história de pouco mais de uma década conta já com a recepção a oito campeonatos nacionais de profissionais. Uma pequena cidade com um restaurante galardoado com uma estrela no reputado Guia Michelin, mapa do tesouro da grande culinária mundial. Uma pequena cidade com um parque aquático como não há mais nenhum no Norte, incluindo a maior piscina de ondas do país e uma capacidade total para 1500 pessoas/dia. Uma pequena cidade com um rio heterogéneo e encantador, onde se podem praticar as maiores loucuras ou simplesmente pedalar uma gaivota num domingo à tarde.
A nossa visita começa pela Casa da Calçada, um dos seis membros portugueses da elegante cadeia Relais&Châteaux e, para muitos, um dos melhores hotéis portugueses. À nossa volta, os elementos neo-clássicos fazem sobressair a matriz romântica e a decoração quente e abundante cria um refúgio em cada recanto, uma história em cada metro quadrado de parede. E, no entanto, é ainda de espontaneidade que se faz o dia a dia. “Se a rapariga da piscina deixar cair uma travessa, aquilo que nós esperamos é que continue a ser apenas uma rapariga que deixou cair uma travessa, não um autómato com a cabeça automaticamente no cepo. Tentamos manter uma recepção elegante, mas de matriz rural, autêntica e humana”, explica António Aguiar Branco, antigo colaborador do Grupo Visabeira e hoje responsável máximo pelos projectos turísticos do grupo Mota-Engil, de que fazem parte tanto a Casa da Calçada como o Campo de Golfe de Amarante. “De resto, apenas podemos lamentar que, tendo tanto reconhecimento no estrangeiro, sejamos tão pouco reconhecidos aqui em Portugal. É o problema da mentalidade do Porto, em princípio um bom mercado para nós: aparentemente, e estando a menos de 60 quilómetros de distância, estamos demasiado perto para ir dormir e demasiado longe para ir comer.”
Pois quem perde são os portuenses. Os lisboetas, diga-se, também não aparecem muito. Mas os galegos tem representação – e, de há uns anos a esta parte, parece crescer todos os dias o número de visitantes de províncias como Leon, Zamora, Salamanca, mesmo Valladolid, Segovia ou Madrid. Muitos vêm passear, comprar antiguidades, conhecer o Tâmega. Uns tantos vêm de propósito para conhecer o restaurante Largo do Paço, onde o chef Ricardo Costa aportou (depois da experiência no Grande Hotel de Vidago, entretanto encerrado para obras) para recuperar a estrela Michelin ganha em 2005 e perdida em 2007. No dia em que o visitamos, somos mimados com um menu degustação incluindo doze longuíssimos pratos, incluindo entradas e saudações, patos de peixe e de carne, sobremesas e bolinhos a acompanhar o café. E, então, parece fazer sentido todo o trajecto daquele edifício – esse mesmo edifício que alberga, em simultâneo, o Largo do Paço e a Casa da Calçada. Com um núcleo central construído no século XVI (e destinado a servir então o papel de um dos principais palácios do Conde de Redondo), a mais bela casa senhorial do centro de Amarante foi sucessivamente sede do comando anglo-português durante as Campanhas Napoleónicas, palco de conspirações políticas durante a I República e centro gravitacional de toda a actividade empresarial do mítico Grupo Mota & Companhia, entretanto fundido com a Engil, Sociedade de Construção Civil, SA. E só por ele, pelo restaurante, já valia a pena o esforço da família Mota para transformar a casa num hotel, lutando durante mais de vinte anos contra as reticências do IPPAR, que adiou tanto quanto pôde a consolidação do projecto.
Por um lado, percebe-se o zelo do Instituto Português do Património Arquitectónico. Quem deixa os limites da Casa da Calçada e atravessa a Ponte Velha (ou Ponte de São Gonçalo), em direcção ao centro da cidade, rapidamente percebe que não é ilusão a coerência do conjunto urbano avistado a partir do outro lado: a grandeza contida da Igreja de São Gonçalo, os encontros de ocasião da Praça da República (e também chamada “de São Gonçalo”), as delicadas ilhargas com que os edifícios namoram o Tâmega, a reiterada presença do sagrado nos pormenores da arquitectura, nos olhares das gentes, nas rotinas de fim-de-semana. Íntima da Sub-Região Vale do Sousa e Baixo Tâmega, Amarante faz parte, hoje em dia, de uma das zonas mais deprimidas do país. Não tem indústria, tem pouco comércio – quase tudo nela é ruralidade e modéstia. E, todavia, persistem ainda por ali, de alguma forma, reminiscências da aristocracia que a marcou no passado. E persistem, naturalmente, as referências aos seus muitos artistas e intelectuais: o Museu Amadeo Souza-Cardoso, a Casa de Teixeira de Pascoaes, as paisagens de Agustina Bessa-Luís, as memórias de António do Lago Cerqueira ou António Cândido. Fim-de-semana perfeito? Fim-de-semana perfeito é aqui, onde anda como que um país inteiro numa simples casca de noz.
E, depois, há o golfe: um belíssimo campo de montanha, desafiante como sempre são os campos do Norte do país, de humor retorcido como sempre são os campos desenhados por Jorge Santana da Silva. Faça um favor a si próprio: leve o seu flop shot bem treinadinho (e, já agora, todo o resto do scramble), caso contrário mais vale ficar no hotel. Com as serras do Marão, da Aboboreira e do Alvão em frente, para além do vale onde se dispersam os buracos do meio de cada back, o Campo de Golfe de Amarante tem como principal desafio precisamente a perspectiva: a avaliação das distâncias, prejudicada pelos permanentes declives – e, como é natural, a escolha dos tacos correctos para cada shot. Aí, entre pinheiros, choupos e árvores de fruto, pode residir a diferença entre um birdie e um triplo bogey – e aí, obviamente, acabará por residir a diferença entre um bom ou mau jogo, sobretudo perante um course rate e um slope rate reduzidos, e portanto extremamente penalizadores para os handicaps mais baixos. Afinal, para quê estragar o melhor fim-de-semana do ano com uma frustração num campo de onde, embora tantos profissionais tenham saído a chorar, tantos e tantos iniciados saíram com um sorriso?
AMARANTE
FUNDAÇÃO: início do século XIII
CATEGORIA: cidade (desde 1985) e sede de concelho
FREGUESIAS: 40
POPULAÇÃO: 61 mil habitantes (concelho)
DISTRITO: Porto
FERIADO MUNICIPAL: 8 de Julho
PADROEIRO: São Gonçalo
REGIÃO: Norte
SUB-REGIÃO: Tâmega
ANTIGA PROVÍNCIA: Douro Litoral
PAÇOS DO CONCELHO: Alameda Teixeira de Pascoaes, 4600-011 Amarante
CIDADÃOS ILUSTRES: Teixeira de Pascoaes (escritor e poeta), Amadeo de Souza-Cardoso (pintor), Agustina Bessa-Luís (escritora), António do Lago Cerqueira (orador e político), António Carneiro (pintor), António Cândido (orador e político), António Pinto (maratonista olímpico), Marinho Pinto (advogado), Nuno Gomes (futebolista), Ricardo Carvalho (futebolista)
A VISITAR: Ponte de S. Gonçalo, Igreja e Convento de São Gonçalo, Museu Amadeo Souza-Cardoso, Casa de Teixeira de Pascoaes, Igreja de São Pedro, Mosteiro de Travanca, Solar dos Magalhães
SÍTIO OFICIAL: www.cm-amarante.pt
HOTEL CASA DA CALÇADA RELAIS&CHÂTEAUX
PROPRIEDADE: Mota-Engil Turismo
ENDEREÇO: Largo do Paço, nº 6, Cepelos, 4600-017 Amarante (GPS: 41º16’06’’N/8º04’41’’W)
INAUGURAÇÃO: 2001
CATEGORIA: 5 estrelas
DISTINÇÕES: Unesco World Heritage Site; Edifício Portugu~es de Relevante Interesse Arquitectónico, Histórico e Cultural; Chave de Ouro do semanário “Expresso”
DIRECTOR: António Aguiar Branco
SÍTIO OFICIAL: www.casadacalcada.com
INFRA-ESTRUTURAS E SERVIÇOS
QUARTOS: 30 (13 de luxo, 13 de luxo superior e 4 suites)
ESPAÇOS: restaurante, dois bares, sala de fumo, sala de jogo, sala de leitura, salões de banquetes, salas de reuniões, jardins, terraço de massagens panorâmicas, piscinas exteriores, solário, campo de ténis, vinha privada
ACTIVIDADES: golfe, ténis, natação, passeios de bicicleta
SERVIÇOS COMPLEMENTARES: estacionamento (gratuito), internet wireless, viatura com motorista, shuttle privado de e para o aeroporto
TARIFAS: variáveis, consoante os programas e as épocas do ano (tabela de € 155 a € 500)
RESERVAS: 255.410.830 (tel), 255.426.670 (fax), calcada@relaischateaux.com (email)
RESTAURANTE
GASTRONOMIA: portuguesa tradicional, com vinco contemporâneo
CHEF: Ricardo Costa
ESCANÇÃO: Adácio Ribeiro
MESTRE PASTELEIRO: José Bastos
DISTINÇÕES: 1 estrela Michelin
FUMADORES: não
RESERVAS: 255.410.830 (tel)
PREÇO MÉDIO: € 60 por pessoa
ACESSOS
SITUAÇÃO: 55 km a NE da cidade do Porto
ACESSOS: pela A4, sair em Amarante Este, virar na primeira à direita em direcção ao Centro, virar na primeira rotunda à esquerda para o Parque Florestal, seguir na segunda rotunda em frente até à Ponte Velha
CAMPO DE GOLFE DE AMARANTE
PROPRIEDADE: Sociedade do Golfe de Amarante, SA
ENDEREÇO: Quinta da Deveza, Fregim, 4600-593 Amarante (GPS: 41º15’31’’N/8º06’54’’W)
INAUGURAÇÃO: 1997
DISTINÇÕES: Troféu Fernando Cabral 2004 (para a sociedade de golfe do ano)
PRINCIPAIS PROVAS: Campeonato Nacional de Profissionais entre 1998 e 2005
DIRECTOR: Pedro Fonseca
GOLF-PRO: João Silva
Nº DE SÓCIOS: 120
SÍTIO OFICIAL: www.amarantegolfclube.com
ARQUITECTURA
ARQUITECTO: Jorge Santana da Silva
ÁREA: 34 ha
TIPO: montanha, parkland
BURACOS: 18
PAR: 68
COMPRIMENTO: 5030 (brancas), 4604 (amarelas), 4089 (vermelhas)
COURSE RATE: 66,1 (brancas), 64,3 (amarelas), 65,6 (vermelhas)
SLOPE RATE: 120 (brancas), 117 (amarelas), 18 (vermelhas)
DRIVING RANGE: sim
PITCHING GREEN: sim
PUTTING GREEN: sim
QUOTAS, GREENFEES E SERVIÇOS
QUOTA ANUAL DE SÓCIO: € 1350 (utilização ilimitada)
JÓIA DE INSCRIÇÃO: não tem
VOLTA DE 18 BURACOS: € 50 (semana) e € 75 (fim-de-semana), fora convénios e descontos para juniores (50%)
VOLTA 9 BURACOS: € 35 (semana) e € 50 (fim-de-semana), fora convénios e descontos para juniores (50%)
PROMOÇÕES ESPECIAIS: durante a semana, € 50 por dois greenfees e um buggie; às quintas-feiras, € 30 por greenfee+buggy partilhado+almoço
BUGGY: € 28 (semana) € 35 (fim-de-semana)
CADDIE: não tem
TROLLEY ELÉCTRICO: não tem
TACOS DE ALUGUER: € 30
COURSE GUIDE: € 3
TOKEN: € 3 (cerca de 50 bolas)
LIÇÕES: € 25 (25 minutos), € 40 (50 minutos)
MARCAÇÕES: 255.446.060 (tel), 255.446.202 (fax), golfeamarante@tamegaclube.com (email)
ACESSOS
SITUAÇÃO: 58 km a NE da cidade do Porto
ACESSOS: pela A4, sair em Amarante Oeste, seguir as placas “Fregim” e, depois, as placas “Golfe”
REPORTAGEM. J, 4 de Outubro de 2009