ler mais...
20 Outubro 2009

Quem ontem quisesse encontrar um jornalista de golfe, terminado que estava o III Portugal Masters, não precisava procurar muito: bastava dar uma volta pelo campo do Oceânico Victoria e localizar os homens e as mulheres que, ajoelhados no chão e de mãos erguidas aos céus (vocês sabem, tipo “Platoon”), gritavam “Mas porquê, meu Deus, porquê?”, como se efectivamente Deus não tivesse mais nada que fazer senão assistir à tragicomédia que eles ali encenavam. Todos os anos somos chamados a experimentar o campo com o setup da quarta ronda do Masters – e ainda bem. Depois de quatro dias de judicioso discurso sobre o torneio e os seus jogadores, sobre quem está a jogar bem e quem está a jogar mal, a lição anual de humildade assenta-nos bem. Mas também é como se todos os anos a aprendêssemos de novo, depois de a termos bloqueado na memória para evitar ceder de vez à depressão.

São seis longas horas em campo – às vezes até mais. Algumas das marcas Championship são tão mais longas do que as vulgares Amarelas que chega a ocorrer-nos bater primeiro um ferro 7 para o tee seguinte – e só então começar a jogar o buraco de forma “normal”; alguns carries sobre os lagos são tão compridos que, na verdade, e sobretudo em tempos de crise, há quem vá passar férias para mais perto. Este ano perderam-se menos bolas no rough, em virtude do corte suplementar com que o Oceânico Victoria partiu de encontro à pretensão de alguns dos participantes na edição 2008 do Masters, mas por outro lado os triplos putts foram muitíssimos mais, em resultado da maior lentidão (e de uma certa assimetria) dos greens. Resultado: desespero, lamúria – e, claro, muito pouco triunfo.
E, no entanto, chegados a um par 4 de 420 metros, nenhum de nós faz um lay up, nenhum de nós bate deliberadamente para bogey, nenhum de nós joga para os pontos: todos tentamos atingir o green in regulations, garantir os dois putts da ordem e, entretanto, tentar o birdie. E nada disso acontece, bem vistas as coisas, porque somos jornalistas: acontece porque somos golfistas – e porque, em vez de imitar o veterano que ganha os torneios lá no home club a gerir o campo de forma inteligente, um golfista quer sobretudo é imitar a forma como Lee Westwood joga. “É a vitória da esperança sobre a experiência”, chamava Samuel Johnson ao segundo casamento. Pois o golfe é isso: um casamento diferente a cada buraco – e qualquer um deles, à partida, destinado a durar para sempre. Valerá a pena, entretanto, viver com medo de nos partirem o coração?

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 20 de Outubro de 2009

publicado por JN às 11:25

19 Outubro 2009

Quem estava ao fim da tarde de ontem no green do buraco 17, na linha da frente do corredor que foi preciso improvisar para Lee Westwood bater o shot do torneio, só podia ficar com a impressão de que este III Portugal Masters fora um sucesso. E o facto é que o foi mesmo. Ao melhor field de sempre correspondeu a melhor assistência da história. À brilhante competitividade entre os da frente correspondeu ampla cobertura nos media nacionais e internacionais. E à grande vitória de um dos jogadores que mais prestígio davam ao torneio que ganhassem (Lee Westwood, uma referência do golfe mundial, ainda por cima inglês) há-de corresponder agora, de certeza absoluta, um drástico aumento da notoriedade do Masters português entre os adeptos de golfe de todo o mundo.

E, no entanto, foi Frederico Costa, vice-presidente do Turismo de Portugal, a entregar o troféu. Ao contrário dos dois primeiros anos, em que fora o próprio ministro da Economia (Manuel Pinho) a abrilhantar o momento, nem um só membro do Governo dispôs este ano de suficiente disponibilidade (ou agilidade) de agenda para deslocar-se ao Algarve. Por um lado, é preciso compreendê-lo: depois de um ciclo eleitoral longo de mais, Portugal está, na prática, sem Executivo. Por outro, é importante deixá-lo claro: o golfe nacional, definido até 2015 como um produto estratégico para o sector do turismo (ele próprio uma área estratégica para a economia nacional), vive um momento de charneira, com desafios que exigem um envolvimento institucional claro da parte das diferentes tutelas do sector.
Um desses desafios é a prometida candidatura à organização da Ryder Cup 2018, projecto da Federação Portuguesa de Golfe que poderá representar, a médio prazo, um importante catalisador para a indústria de golfe nacional (e não só). Portugal é igualmente pré-candidato à recepção do Campeonato do Mundo de futebol desse mesmo ano – e, sendo a sobreposição geográfica e temporal das duas provas impossível, de acordo com os critérios da Ryder Cup, o Governo tem desde já, e com urgência, uma tarefa a desempenhar: a concertação entre as federações das duas modalidades, seja para a apresentação de duas candidaturas simultâneas (embora autónomas), seja para a desistência de uma em benefício da outra. Os prazos começam a apertar – e, neste momento, nem sequer é urgente saber quem serão os ministros e os secretários de Estado: já começa a ser urgente que estejam todos no exercício pleno das suas novas (ou velhas) funções.

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 19 de Outubro de 2009

publicado por JN às 11:22

18 Outubro 2009

“É a quinta vez que jogo. Nos momentos livres, o golfe ajuda muito”, disse quarta-feira Nelson Évora, um dos campeões olímpicos convidados a assistir ao lançamento do Portugal Masters – e desde então essa frase anda a martelar-me na cabeça. Se ele tivesse tido o mínimo de má intenção, a pergunta que eu lhe colocaria era: “O que pensaria você, Nelson, se Filipe Lima lhe dissesse que já tinha saltado cinco vezes – e que, nos momentos livres, o triplo salto o ajudava muito?” Como sei que não teve, vou apenas tentar mostrar-lhe por é que, parecendo inofensiva, a sua frase é perigosa.

Nascido há mais de 250 anos, o golfe viveu dois séculos sob uma série de sucessivos anátemas. Começou por ser um jogo da plebe que a aristocracia pretendia proibir, de forma a impedir o desperdício da força de trabalho; passou a ser um jogo da aristocracia que muito agradaria a boa parte da plebe exterminar, de forma a vingar a sua subalternidade; e, entretanto, foi muito tempo também um jogo em que os gordos, os fumadores e até os preguiçosos podiam vencer. Hoje, não é bem assim. Ainda tem gordos, mas no basquetebol também os há muitos; ainda tem fumadores, mas no futebol também os há imensos – e, se tem preguiçosos, pois todas as modalidades os têm.
De resto, é um desporto a viver um dos melhores momentos de sempre, com cada vez menos espartilhos classistas. Por causa da sua meritocracia, mas também porque os grandes jogadores são cada vez mais verdadeiras máquinas, em resultado do treino físico e da exigência atlética a que são submetidos. E é (também) por isso que o golfe acaba de ser aceite de novo como modalidade olímpica: porque, para praticá-lo bem, já não basta chegar “mais alto” e ir “mais longe” – é preciso ser “mais forte” também. Ainda no outro dia Retief Goosen o dizia, explicando a actual inconstância dos jogadores sul-africanos: “O swing clássico já não chega. Temos de endurecê-lo. E é nisso que tenho vindo a trabalhar.” Já não basta ter técnica, pois: é precisa energia e é precisa tensão.
Ao dizer que “nos momentos livres, o golfe ajuda muito”, Nelson Évora vai de encontro àquilo que muitos amadores tiram do golfe: prazer e evasão. Mas está também, como faz tanta gente, a reduzi-lo a isso: a um passatempo saudável. E muito me agradaria se, treinando um pouquinho mais de cinco vezes ao longo dos próximos doze meses, ele pudesse juntar-se a nós no Pro-Press de 2010. Tenho a certeza de que perceberia, enfim, a extrema competitividade deste jogo maravilhoso.

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 18 de Outubro de 2009

publicado por JN às 11:17

18 Outubro 2009

E, pronto, está feita a festa. O golfe conseguiu fazer-se aprovar para o programa olímpico de 2016 e 2020 – e há uma semana que o vem celebrando um pouco por todo o lado, quer através dos dirigentes e atletas que se envolveram pessoalmente na persuasão do Comité Olímpico Internacional (COI), quer através daqueles que, não tendo dispendido um segundo numa causa que julgavam perdida, se apaixonaram por ela assim que a viram concretizada. Mesmo os opositores da ideia (como Darren Clarke, Trevor Immelman, Davis Love III, Ian Poulter ou Geoff Ogilvy) abriram alas, ao longo destes dias, para os festejos – é, no fundo, toda uma modalidade em lua de mel com a transversalidade que começa a conseguir sem, com isso, abdicar da dimensão que já antes atingira. Entretanto, porém, chegou a altura de perguntar: e agora? O que é preciso fazer até ao Rio’16?

É preciso tomar uma série de decisões: decisões que passam pela escolha do campo que receberá o torneio olímpico, do modelo de qualificação dos jogadores e do formato das diferentes competições previstas. Mas não só. A própria modalidade, reconhecem todos, precisa de preparar-se para uma participação condigna nos Jogo Olímpicos (tão consigna, aliás, que lhe permita “prolongar o contrato” na reavaliação marcada para 2017). E isso não passa só por uma aturada negociação com os patrocinadores da FedEx Cup, da Race To Dubai e da Ryder Cup, destinada à libertação de um fim-de-semana para o torneio olímpico ao longo do verão de 2016, ano já coberto por muitos dos contratos. Passa também pela aproximação do jogo ao ideal olímpico (ou vice-versa, as opiniões dividem-se).
Neste momento, e à medida que a poeira vai assentando, as posições dividem-se (e extremam-se) entre a daqueles que acham que o golfe (com a sua etiqueta e a sua ausência de doping) é “bom de mais para os Jogos Olímpicos”, onde, a pretexto de um certo idealismo e de uma certa gratuitidade, várias modalidades (como o atletismo, mas não só) vão abrir caminho para quatro anos de facturação em grande; e a daqueles que temem que, bem vistas as coisas, a primeira sinal de alarme entre os golfistas, durante o desfile de abertura da competição, será um desvio de John Daly até ao topo do estádio, no intuito de acender um cigarro Marlboro na chama olímpica.
“Eu acho que há muitas coisas a mudar. E uma delas é a imagem do jogo”, disse Tim Finchen, Comissário da PGA e um dos homens por detrás da candidatura da modalidade, chefiada por Ty Votaw. “Pois esse é que é o problema. O golfe é demasiado puro para os Jogos Olímpicos. Não o mudem. Que se lixe o COI”, responderam de imediato editorialistas e entusiastas de todo o mundo, por estar ou por outras palavras.
Na mente de muitos está um investimento agora ainda mais claro na divulgação (e abertura) da modalidade entre (e às) classes média e média-baixa dos países ocidentais, assim como entre (e a) todos os extractos sociais dos mais de 80 países onde ela não existe (ou praticamente não existe). Outros tantos, porém, temem que, não contentes com a abertura de novos mercados para o golfe, para o turismo de golfe e para o equipamento de golfe, as autoridades que superintendem o jogo ainda se empenhem em “liofilizá-lo”, por exemplo proibindo em definitivo o tabaco, punindo exemplarmente o mínimo excesso de comportamento ou mesmo fazendo agora marcha-atrás no reforço do código de indumentária do jogo (e passando a permitir, por exemplo, que se jogue de t-shirt ou calções, para citar apenas os dois exemplos menos radicais).
Entretanto, porém, há outros problemas a resolver. O formato da competição, embora não esteja ainda fechado, não deverá ser alvo de grande debate: tanto homens como mulheres deverão jogar um torneio de 72 buracos ao longo de quatro dias, provavelmente sem cut. Mas a dimensão do field e a forma de acesso a ele já não deverão ser tão consensuais. Segundo a intenção declarada pela Federação Internacional de Golfe junto do Comité Olímpico, deveriam estar presentes 60 jogadores em cada uma das competições (masculina e feminina), com uma qualificação incluindo os 15 primeiros de cada ranking mundial (independentemente das nacionalidades), mais os restantes primeiros 45 classificados que não violassem a regra do limite máximo de dois jogadores por país. E, de acordo com as contas feitas por uma série de publicações especializadas, esse formato deixaria de fora, caso os Jogos se realizassem hoje, jogadores como Anthony Kim, Sean O’Hair, Ian Poulter ou Rory McIlroy, para citar apenas alguns exemplos.
De resto, será preciso negociar datas. Não as datas das Olimpíadas, que obviamente será o COI a fixar, mas as datas de tudo o resto em (para já) 2016 e 2020: torneios regulares do PGA Tour e do European Tour (entre outros circuitos), três majors (todo o Grande Slam, menos o The Masters, é disputado no Verão), quatro playoffs da FedEx Cup e ainda a Ryder Cup (visto tratar-se de anos pares), para citar apenas as principais competições. Muitos dos actuais contratos de patrocínio e transmissões televisivas já entram por essas datas dentro, exigindo uma renegociação hábil com entidades bancárias, marcas de automóveis e estações de televisão, entre outras.
Felizmente para as pretensões da Federação Internacional de Golfe, a esmagadora maioria dos jogadores aderiu. Phil Mickelson foi desde sempre um entusiasma da ideia. Lorena Ochoa também. Pádraig Harrington envolveu-se directamente no processo, tal como Michelle Wie ou o jovem italiano Matteo Manassero. Annika Sorenstam, que se retirou no ano passado, aos 39 anos, já permitiu que se começassem a alimentar especulações sobre um regresso à competição só a pensar no Rio’16. E Tiger Woods, silencioso de início, acabou por tornar-se num grande defensor do projecto. Alguém pode garantir que, sem ele (e a possibilidade de pô-lo na televisão), o COI não teria mandado o golfe passear?

 

 

NEM TUDO O QUE LUZ É OURO

Das doze medalhas distribuídas por golfistas entre 1900 e 1904, as duas únicas edições em que a modalidade fez parte do programa olímpico, nove foram conquistadas pelos EUA. Entretanto, o mundo mudou – e o golfe mudou com ele.

A última vez que o golfe tentara fazer parte dos Jogos Olímpicos fora em 1993, então a pensar em Atlanta 1996. Billy Payne, então CEO do Committee For The Olympic Games (e, aliás, o homem que teve a ideia de candidatar a cidade à organização das Olimpíadas de Verão), foi o grande defensor da ideia, mas não conseguiu convencer o Comité Olímpico. Jurista e politólogo, acabaria por dedicar-se em exclusivo ao golfe após a experiência olímpica, sendo hoje o presidente do Augusta National, casa do The Masters (e, antes disso, de Bobby Jones). Mas, se Payne falhou, não foi por falta de tradição. Na verdade, o golfe fez parte do programa olímpico em 1900 e 1904, respectivamente na segunda e terceira olimpíadas modernas. Os torneios, sempre para jogadores amadores, decorreram em Paris e Saint Louis – e os Estado Unidos ganharam quase tudo. Em 1900, juntaram-se na capital francesa 17 jogadores de quatro países diferentes (França, Inglaterra, Estados Unidos e Grécia). Os homens jogaram 36 buracos e as senhoras apenas 9 – e, no fim, os jogadores americanos ganharam quatro medalhas, todas as femininas e a primeira masculina (deixando apenas a prata e o bronze masculinos para os jogadores britânicos). Em 1904, no Missouri, foi diferente. Participaram 77 jogadores, todos homens, mas apenas três estrangeiros (canadianos), sendo todos os restantes 74 americanos. Havia classificação colectiva e individual. Curiosamente, o vencedor individual foi canadiano: George Lyon. Agora, mais de um século depois, o golfe está de volta. O mundo mudou muito, o jogo também. Os participantes já não serão amadores: serão apenas, grosso modo, os desportistas mais bem pagos da actualidade – e pelo menos uma centena de países cultivará, por esta altura, a ilusão de fazer-se representar.

 


OS PRIMEIROS TRÊS CAMPOS CANDIDATOS

Rio de Janeiro, São Paulo e Búzios: o torneio olímpico de golfe pode realizar-se numa destas três cidades. Mas os dois campos (com desenho de Nick Faldo a construir junto a um mega resort ainda em desenvolvimento em Petrópolis também podem ser uma solução. Não se sabe é nada sobre eles ainda, pois só serão inaugurados em 2013.

 

ITANHANGA GOLF CLUB
Localização: Rio de Janeiro
Fundação: 1933
Desenho: Stanley Thompson
Par: 72
Comprimento: 6035 m
Honras e distinções: recebeu o Rio de Janeiro 500 Years Open de 2000, a contar para o European Tour (e ganho por Roger Chapman); e o HSBC Brasil Cup de 2009, a contar para o LPGA Tour (e ganho por Catriona Matthew)
PRÓS: fica próximo da aldeia olímpica e do centro do Rio de Janeiro; tem um segundo percurso de nove buracos
CONTRAS: é curto e apertado; tem pouco espaço para espectadores; não oferece grande espectacularidade televisiva

 

SÃO PAULO GOLF CLUB
Localização: São Paulo
Fundação: 1901
Desenho: Stanley Thomson (renovado por Robert Trent Jones Jr. em 2007)
Par: 71
Comprimento:6011 m
Honras e distinções: recebeu o São Paulo 500 Years Open de 2000, a contar para o European Tour (e ganho por Pádraig Harrington); e o São Paulo Brazil Open de 2001, a contar igualmente para o European Tour (e ganho por Darren Fichardt)
PRÓS: fica próximo de um centro populacional gigantesco; foi renovado recentemente; tem imenso espaço para parqueamento e para a circulação dos espectadores
CONTRAS: fica a 450 quilómetros do Rio; não permite grande espectacularidade televisiva

 

BÚZIOS GOLF CLUB & RESORT
Localização: Búzios
Fundação: 1995
Desenho: Perry Dye
Par: 72
Comprimento: 6452 m
Honras e distinções: –
PRÓS: é comprido; é ventoso; fica junto ao mar; oferece grande espectacularidade televisiva
CONTRAS: fica a mais de 150 quilómetros do Rio, numa área isolada; a relva Bermuda teria de ser substituída por relva à altura de um torneio dimensão em causa

 

FEATURE. J, 18 de Outubro de 2009


publicado por JN às 10:47
tags:

17 Outubro 2009

A primeira vez que me interessei pela biografia de Anton Haig, sul-africano, foi ontem, passava já das seis da tarde. Para mim, ele era só mais um rosto na multidão – apenas mais um nome entre tantos, apesar da épica vitória no Johnnie Walker Classic de 2007, de que ainda me lembrava vagamente. Entretanto, fiquei especialista. Porque eu estava a meio do buraco 9 quando, já o dia declinava e o público se concentrara atrás dos heróis da tarde (Harrington, Schwartzel, Westwood), ele meteu a bola no rough da esquerda, momentaneamente sem spotter. Porque eu acompanhei as três ou quatro almas penadas que acorreram em seu socorro, ajudando-o a procurá-la junto com os marshalls que entretanto reuniram para tentar evitar o desastre. E porque eu testemunhei o seu fracasso e o seu regresso à tee box, de ombros caídos, para bater uma segunda bola.

Era o seu último buraco do dia – e seria também o seu último buraco neste torneio. Um bogey ter-lhe-ia bastado para passar o cut; o triplo com que acabou mandou-o para casa mais cedo. Nada a que Haig não esteja habituado, diga-se: vencedor do dito Johnnie Walker de 2007, ele já não vencera qualquer torneio em 2008 – e neste ano de 2009 não passara mais de quatro cuts, acumulando pouco mais de 22 mil euros. Actual número 244 da money list do European Tour, está agora na iminência de regressar ao Challenge Tour. Tudo bem: tem apenas 23 anos – e, como acaba de acontecer com Filipe Lima, talvez o Challenge o reposicione do ponto de vista competitivo. E, no entanto, houve aquela bola. Aquela bola perdida num rough este ano muito mais curto do que o de 2008 – e no exacto instante em que o spotter fora à casa de banho (ou coisa que o valha).
Perder uma bola é o momento mais frustrante de um jogo de golfe – e é também, às vezes, o mais poético. Na verdade, podia escrever-se um romance inteiro apenas com aquele instante em que, depois de vários buracos a lutar contra a adversidade e de deduzir que um simples bogey chega para salvar um dia, uma semana, um ano inteiro, um jogador percebe que acertou mal na bola e sente abrir-se-lhe um alçapão sob os pés, ficando depois, durante dez longuíssimos segundos, a contemplar aquele voo errático para além da vida e da morte, em direcção a um lago, a uma ravina ou a um rough glutão. Talvez ninguém escreva esse romance – e ninguém, de certeza, o escreverá a propósito de Anton Haig. Mas eu achei que devia dedicar-lhe ao menos uma crónica. Eu, porteiro de alçapões, estive com ele em cada um daqueles dez segundos.

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 17 de Outubro de 2009

publicado por JN às 11:12

16 Outubro 2009

Ontem, a meio do dia, fui ao Windguru.Cz, o site pelo qual boa parte dos golfistas europeus (e mundiais) confere a meteorologia antes de 18 buracos. Em Marselha, onde tantos parisienses gostam de refugiar-se no Outono e no Inverno, o tempo estava tão bom quanto podia estar nesta altura: céu carregado, temperaturas entre os cinco e os 12 graus centígrados, vento acima dos 15 nós, precipitação irregular à média de um milímetro por metro quadrado em cada período de três horas. E o panorama era bom em Marselha, diga-se. Em Ljunghusen, na Suécia, cujo famoso links não tarda a fechar para o Inverno, houve 4º C ao longo de grande parte do dia. Em Great South Bay, a bela praia do Estado de Nova Iorque, chovia a potes: 7,4 mm. Em Okinawa, o areal japonês em que as tropas americanas desembarcaram num dia de Primavera de 1945, fazia um impossível vento acima dos 28 nós.

Em toda a parte, ao longo do Hemisfério Norte (e mesmo estando a Europa, por esta altura, sob uma chamada “vaga de calor”), havia pelo menos nuvens. E em toda a parte, em ambos os hemisférios, havia gente a ver aquilo pela televisão: um torneio de golfe disputado debaixo de um perfeito sol de Verão, com 24º C, cinco nós de vento, nenhuma gota de chuva – e, aliás, nem uma nuvem sequer. Esse torneio era o Portugal Masters. E esse local era o Algarve. Tal como nos dois primeiros dias de 2008, o maior torneio de golfe realizado anualmente em Portugal volta a impressionar os visitantes pela meteorologia. Ainda na quarta-feira, pouco depois de aterrar em Faro, Retief Goosen o dizia: “Estava a chover imenso em Londres. Isto é uma maravilha. Parece outro continente.” E ontem foi parecido: jogadores de calças e pólos ultraleves, alemães passeando de calções pelo campo, espanholas abanando-se com leques, ingleses e inglesas bebendo coca-cola gelada à sombra das oliveiras, com a cara pintalgada de creme solar. Isto em meados de Outubro.
Se outra coisa não fosse, este III Portugal Masters já era isso: uma extraordinária promoção às maravilhas da meteorologia algarvia, com 650 horas de transmissão televisiva para mais de uma centena de países. E, no entanto, não está a ser “só isso”: está a ser também um grande torneio, com excelentes resultados e uma belíssima presença dos jogadores portugueses. Mas há dúvidas de que, bem orquestrada e promovida, uma simples candidatura à recepção da Ryder Cup 2018 seria um empurrão definitivo para tudo isto?

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 16 de Outubro de 2009  

publicado por JN às 10:58

15 Outubro 2009

Jogar ao lado de Retief Goosen é uma coisa que nos acontece uma vez na vida. É como se, sendo um homem um actorzeco amador, fosse um dia recrutado para fazer um filme com Kate Winslett, incluindo cena de cama e tudo. Portanto, quando eu soube do maravilhoso draw que me calhara para este pro-am, tomei as medidas normais: não dormi durante duas noites, passei o último serão a marcar bolas e a passar a limpo as swing keys e dediquei a última manhã a substituir os spikes, a corrigir o approach e a munir-me de víveres para dois meses – enfim, o básico num bom homem de família a quem este jogo tirou o juízo por completo.
Escusado será dizer que, com tanto desejo, ainda não tínhamos jogado cinco buracos e eu já fizera de tudo: slices e hooks, shanks e tops, triplos putts e duplos bogeys. Que diabo, eu não estava a jogar com Retief Goosen: eu tinha Retief Goosen a assistir aos meus shots – e, se para ele aquilo era apenas um pro-am, para mim era o British Open. Naturalmente, saía tudo mal. Ao segundo buraco, os meus parceiros começaram a confortar-me, que é o pior de tudo. Ao quarto, reuni coragem e olhei para Goosen: para pedir-lhe que não ficasse nunca entre a minha bola e a bandeira, a ver se eu não aparecia nas notícias. Ao sexto, deixei rolar o trolley por uma lomba – e aí foram, ravina abaixo, o trolley e os tacos e as garrafas de água e tudo o que ainda me restava de dignidade (se é que restava).
E, então, tive uma epifania. Estávamos no tee do 10, com câmaras de TV e caçadores de autógrafos e dirigentes federativos e muitos marshalls em volta – e ouvi uma voz. “Concentra-te só naquilo que podes dominar. Isto já é tudo grande de mais para ti. Bate-me nessa gaita dessa bola e pronto. Assim como assim, já tens o dia estragado.” Fiz o meu primeiro par da tarde – e, até ao fim da ronda, fiz ainda mais cinco. Não joguei bem, mas não por nervoseira: apenas porque efectivamente não jogo bem. Acabámos no sexto lugar final – e, feitas as contas, ainda consegui ganhar o buraco 16 à minha super-estrela privativa, com um épico up-and-down (incluindo putt americano) que muito lhe agradaria a ela própria ter feito.
Não vou escondê-lo: fiz o pior resultado da equipa. Mas tenho uma vantagem sobre todos os outros: posso exorcizar o meu fracasso de imediato, gozando comigo próprio numa crónica de jornal. De resto, uma história depende muito de como a contamos. E, quando eu tiver netos, vou contar assim a minha: “Sabem, queridos, antigamente havia um jogador chamado Retief Goosen, que ganhou dois US Opens e foi um dos melhores do mundo. Uma certa semana, ele jogou no domingo com Phil Mickelson, na President’s Cup, e na quarta-feira com o vosso avô, no Portugal Masters.” Estou em dúvida sobre se começo com “Era uma vez” – e, aliás, se digo “um dos melhores do mundo” ou “o melhor do mundo” mesmo. O remate, no entanto, já tenho: “E o vovô limpou-lhe o buraco 16.”

ESPECIAL III PORTUGAL MASTERS. O Jogo, 15 de Outubro de 2009


11 Outubro 2009

Pádraig Harrington, actual 21º classificado na Race to Dubai, procura garantir na Europa aquilo que não conseguiu na América. Rory McIlroy, líder do ranking europeu depois do terceiro lugar no Dunhill Links Championship da semana passada, quer defender o seu comando. Retief Goosen, o bi-campeão do US Open, regressa às competições individuais, depois da participação em mais uma edição da President’s Cup (que hoje mesmo se conclui, em São Francisco). Ben Curtis, campeão do British Open e um dos jogadores mais em foco em 2008, tenta esquecer o facto de ter sido deixado de fora da edição deste ano dessa mítica prova entre os EUA e o Resto do Mundo. Robert Karlsson, saído finalmente de uma longa ausência por motivos físicos, volta a um lugar onde já foi feliz, tendo praticamente confirmado ali a vitória na última Ordem de Mérito Europeia. E Álvaro Quiros, o simpático e ambicioso espanhol que no ano passado encantou a Europa a partir de Vilamoura, conquistando então o maior prize money da sua carreira, quer agora ser o primeiro jogador a vencer o torneio português duas vezes seguidas.

O Portugal Masters está de volta – e, aparentemente, melhor do que nunca. O PGA Grand Slam of Golf privou-nos este ano de Ángel Cabrera, que vai à Bermuda com o casaco verde conquistado no The Masters, mas libertou Pádraig Harrington, que há dois anos consecutivos ficava retido nessa mesma competição. Entretanto, várias outras grandes estrelas mundiais acabam por juntar-se ao irlandês em Vilamoura. Ao todo, estarão no Oceânico Victoria 16 jogadores classificados nos 50 primeiros lugares do ranking mundial (eram 15, mas a vitória no Dunhill Links catapultou Simon Dyson para essa elite). Lee Westwood, Ross Fisher, Soren Kjeldsen, Miguel Angel Jiménez, Gonzalo Fdez-Castaño, Jeev Milkha Singh, Oliver Wilson, Graeme McDowell, Søren Hansen – não falta quase ninguém entre os jogadores em boas condições físicas, em posição de disputar a Race To Dubai 2009 (de que falta realizar apenas mais cinco torneios) e sem lugar no PGA Grand Slam Of Golf.
É, de longe, o melhor field alguma vez reunido em Portugal para um torneio de golfe. Os nomes são de tal ordem que jogadores como Colin Montgomerie (capitão da selecção europeia para a próxima Ryder Cup), Michael Campbell (primeiro classificado do US Open 2005), Thomas Björn (uma das grandes referências do golfe europeu dos últimos 15 anos), Paul Broadhurst (várias vezes campeão em Portugal), Steve Webster (vencedor da primeira edição do torneio, em 2007) ou Shane Lowry (o amador que triunfou de forma sensacional no Irish Open deste ano), entre tantos outros, passam quase despercebidos numa primeira leitura. Estão representadas dezenas de nacionalidades – e várias das actuais “casas” do golfe marcam presença com diversos jogadores, como são os casos da Austrália, da África do Sul, da Argentina, da Índia e, até, dos Estados Unidos. Inevitavelmente, e reduzidos (à excepção de José-Filipe Lima) à candidatura a um convite dos patrocinadores, muitos portugueses interessados em jogar acabaram por ficar de fora. No field ficam apenas o referido Lima, mais António Sobrinho (melhor classificado da edição do ano passado), Ricardo Santos e Nuno Campino, para além dos jovens amadores José Maria Jóia e Tiago Rodrigues.
O evento começa esta quarta-feira, com a realização do habitual Pro-Am, encerrando apenas na segunda-feira da próxima semana, com o também já habitual Pro-Press. Pelo meio, serão cinco dias da mais intensa competição, que de resto a SporTV volta a cobrir ao pormenor (ver quadro). Em jogo estarão três milhões de euros em prize money – e, paralelamente, muitos pontos para a Race To Dubai.

 

 

OCEÂNICO VICTÓRIA GOLF COURSE

Foi palco da Taça do Mundo de 2005 e das duas primeiras edição do Portugal Masters, em 2007 e 2008. Desenhado pelo norte-americano Arnold Palmer, é já considerado a principal jóia dos campos de Vilamoura. Esta semana, estará outra vez na ribalta.

Arquitecto: Arnold Palmer
Inauguração: 2004

SCORE CARD

BURACO PAR DISTÂNCIA
1 4 408
2 4 327
3 5 517
4 4 372
5 5 529
6 3 199
7 4 417
8 3 154
9 4 404
FRONT NINE 36 3327
10 4 371
11 4 352
12 5 500
13 3 183
14 4 388
15 4 288
16 3 190
17 5 538
18 4 423
BACK NINE 36 3233

TOTAL 72 6560

 

 

TRANSMISSÕES SPORTV

A estação voltam a transmitir em directo o torneio de Vilamoura, que se dividirá entre os três canais regulares e a SporTV HD. Os comentários cabem os habituais comentaristas da casa. Menos Nuno Campino, que estará em campo...

DIA HORÁRIO
Quinta, dia 15 15.00-18.00
Sexta, dia 16 15.00-18.00
Sábado, dia 17 14.00-18.00
Domingo, dia 18 14.00-18.00

 

RACE TO DUBAI AO RUBRO

O terceiro lugar no Dunhil Links Championship catapultou Rory McIlroy para o topo da nova ordem de mérito europeia. A cinco torneios da conclusão do campeonato anual, seis dos dez primeiros da classificação estarão em Vilamoura

POSIÇÃO JOGADOR PAÍS PRIZE MONEY
1º Rory MCILROY Irlanda do Norte €2.008.567
2º Martin KAYMER Alemanha €1.982.055
3º Paul CASEY Inglaterra €1.965.150
4º Lee WESTWOOD Inglaterra €1.684.452
5º Geoff OGILVY Austrália €1.606.805
6º Ross FISHER Inglaterra €1.524.347
7º Angel CABRERA Argentina €1.385.499
8º Oliver WILSON Inglaterra €1.217.865
9º Søren KJELDSEN Dinamarca €1.232.109
10º Gonzalo FDEZ-CASTAÑO Espanha €1.130.735

 

FILIPE LIMA: A ESPERANÇA  RENOVA-SE

Foi a sua quinta vitória como profissional, terceira nos circuitos europeus e segunda no Challenge Tour. Cinco anos depois dos triunfos no Segura Viudas Challenge de España (Challenge) e no Aa St Omer Open (Challenge e European Tour), Filipe Lima voltou na semana passada à glória, vencendo o ECCO Tour Championship, disputado no Holsterbo GK, na Dinamarca. Com isso, garantiu em definitivo o cartão do European Tour para 2010 (havia-o perdido no final do ano passado) e, ao mesmo tempo, o privilégio de disputar a principal prova do calendário português sem qualquer pressão quanto ao ano seguinte. “Este triunfo dá-me muita confiança, não só para o resto da época, como para a próxima. Espero jogar bem no Portugal Masters e terminar o ano em alta”, comentou o jogador, no final. “Agora, com a garantia de que salvei o cartão para 2010, vou a Portugal para estar com os restantes jogadores, divertir-me e, pelo meio, tentar jogar bem, mas sem ansiedades”, acrescentou. Lima foi, em 2008, um dos seis portugueses a falhar o cut, que apenas António Sobrinho conseguiu passar. Mas volta a ser a maior esperança lusa para este ano – e, desta vez, parece em forma.

 

UM FIELD PARA RECORDAR

Mais de 150 jogadores dos quarto cantos do mundo, incluindo 16 do top 50 mundial. É o melhor field alguma vez reunido em Portugal para um torneio de golfe. Que mais se podia pedir?

JOGADORES DO TOP 50 DO RANKING MUNDIAL

Padraig HARRINGTON Irlanda
Lee WESTWOOD Inglaterra
Retief GOOSEN África do Sul
Robert KARLSSON Suécia
Rory MCILROY Irlanda do Norte
Ross FISHER Inglaterra
Søren KJELDSEN Dinamarca
Ben CURTIS EUA
Miguel Angel JIMÉNEZ Espanha
Alvaro QUIROS Espanha
Gonzalo FDEZ-CASTAÑO Espanha
Jeev Milkha SINGH Índia
Oliver WILSON Inglaterra
Graeme MCDOWELL Irlanda do Norte
Søren HANSEN Dinamarca

 

VENCEDORES DE MAJORS E DA ORDEM DE MÉRITO EUROPEIA

Paul LAWRIE Escócia
Justin ROSE Inglaterra
Colin MONTGOMERIE Escócia
Michael CAMPBELL Nova Zelândia

 

VENCEDORES DO TPC OF EUROPE, DO VOLVO MASTERS E DO DUBAI WORLD CHAMPIONSHIP

Anders HANSEN Dinamarca
David HOWELL Inglaterra
Scott DRUMMOND Escócia
Niclas FASTH Suécia
Stephen DODD País de Gales
Kenneth FERRIE Inglaterra
Paul MCGINLEY Irlanda

 

VENCEDORES DE TORNEIOS DO WORLD GOLF CHAMPIONSHIPS, DO OPEN DA EUROPA E DOS OPENS DE FRANÇA E DA ESCÓCIA

Christian CÉVAËR França

 

VENCEDORES DE TORNEIOS A CONTAR PARA A ORDEM DE MÉRITO EUROPEIA

Richard FINCH Inglaterra
John BICKERTON Inglaterra
James KINGSTON África do Sul
Richard STERNE África do Sul
SSP CHOWRASIA Índia
Felipe AGUILAR Chile
Mark BROWN Nova Zelândia
Alastair FORSYTH Escócia
Thomas LEVET França
Grégory BOURDY França
Damien MCGRANE Irlanda
Darren CLARKE Irlanda do Norte
Peter LAWRIE Irlanda
Hennie OTTO África do Sul
Pablo LARRAZÁBAL Espanha
Mikael LUNDBERG Suécia
Peter HANSON Suécia
Grégory HAVRET França
Jean-François LUCQUIN França
Charl SCHWARTZEL África do Sul
José Manuel LARA Espanha
Peter HEDBLOM Suécia
Mikko ILONEN Finlândia
Anton HAIG África do Sul
Chapchai NIRAT Tailândia
Daniel VANCSIK Argentina
Pablo MARTIN Espanha
Raphaël JACQUELIN França
Graeme STORM Inglaterra
Marc WARREN Escócia
Brett RUMFORD Austrália
Nick DOUGHERTY Inglaterra
Mads VIBE-HASTRUP Dinamarca
Steve WEBSTER Inglaterra
Thongchai JAIDEE Tailândia
Shane LOWRY Irlanda
Jeppe HULDAHL Dinammarca
Oskar HENNINGSSON Suécia
Simon DYSON Inglaterra
Alexander NOREN Suécia

 

VENCEDORES DE TORNEIOS DUAL RANKING EUROPEAN/CHALLENGE TOUR E DE TORNEIOS DA CATEGORIA R2D

Tano GOYA Argentina
Michael HOEY Irlanda do Norte
Ricardo GONZALEZ Argentina
Christian NILSSON Suécia
David DIXON Inglaterra
Rafael CABRERA-BELLO Espanha

 

CONVITES DOS PATROCINADORES

Shaun MICHEEL EUA
José-Filipe LIMA Portugal
Ricardo SANTOS Portugal
António SOBRINHO Portugal
Nuno CAMPINO Portugal

 

JOGADORES ATÉ À 118ª POSIÇÃO NA ORDEM DE MÉRITO EUROPEIA 2008

Anthony WALL Inglaterra
Francesco MOLINARI Itália
David LYNN Inglaterra
Oliver FISHER Inglaterra
Robert-Jan DERKSEN Holanda
Ignacio GARRIDO Espanha
Louis OOSTHUIZEN África do Sul
Gary ORR Helensburgh Escócia
Johan EDFORS Suécia
Maarten LAFEBER Holanda
Jyoti RANDHAWA Índia
Ross McGOWAN Inglaterra
Robert DINWIDDIE Inglaterra
Martin ERLANDSSON Suécia
Bradley DREDGE País de Gales
Andrew MCLARDY África do Sul
Magnus A CARLSSON Suécia
Jarmo SANDELIN Suécia
Mark FOSTER Inglaterra
Simon KHAN Inglaterra
Pelle EDBERG Suécia
Simon WAKEFIELD Inglaterra
Jamie DONALDSON País de Gales
Rafa ECHENIQUE Argentina
Marcel SIEM Alemanha
Gary MURPHY Irlanda
Paul BROADHURST Inglaterra
Thomas BJÖRN Dinamarca
Marcus FRASER Austrália
Miles TUNNICLIFF Inglaterra
Michael JONZON Suécia
Paul WARING Inglaterra
Phillip ARCHER Inglaterra
Lee SLATTERY Inglaterra
Michael LORENZO-VERA França
Alejandro CAÑIZARES Espanha
Benn BARHAM Inglaterra
Robert ROCK Inglaterra
Sam LITTLE Inglaterra
Peter O'MALLEY Austrália
Shiv KAPUR Índia
Jean-Baptiste GONNET Framça
François DELAMONTAGNE França

 

JOGADORES NO TOP 40 DA CARREER MONEY LIST 2008

Barry LANE Inglaterra
Phillip PRICE País de Gales

 

VENCEDORES DE TRÊS TORNEIOS CHALLENGE TOUR EM 2008

Taco REMKES Holanda

 

JOGADORES ATÉ À 10ª POSIÇÃO NO CHALLENGE TOUR 2008

David HORSEY Inglaterra
Gary LOCKERBIE Inglaterra
Gareth MAYBIN Irlanda do Norte
Seve BENSON Inglaterra
Alessandro TADINI Itália
Richie RAMSAY Escócia
Steven O'HARA Escócia

 

JOGADORES COM EXTENSÃO MÉDICA

Joost LUITEN Holanda
Alan MCLEAN Escócia

 

JOGADORES QUALIFICADOS COM BASE NOS RESULTADOS DE 2009

Chris WOOD Inglaterra
David DRYSDALE Escócia
Fabrizio ZANOTTI Paraguai
Danny WILLETT Inglaterra
Callum MACAULAY Escócia
Andrew COLTART Escócia
Richard BLAND Inglaterra
Marc CAYEUX Zimbabué
Carlos DEL MORAL Espanha
Branden GRACE África do Sul
Klas ERIKSSON Suécia
Åke NILSSON Suécia
Marcus HIGLEY Inglaterra
Joakim HAEGGMAN Suécia
Chris DOAK Escócia
Santiago LUNA Espanha
Wil BESSELING Holanda
Inder VAN WEERELT Holanda
Bernd WIESBERGER Áustria
Wade ORMSBY Austrália
Matthew MILLAR Austrália
Stuart DAVIS Inglatrera
John E MORGAN Inglaterra
Chinnarat PHADUNGSIL Tailândia
Stuart MANLEY País de Gales
Alexandre ROCHA Brasil
Alfredo GARCIA-HEREDIA Espanha
John MELLOR Inglaterra
Anthony SNOBECK França
Eirik Tage JOHANSEN Noruega
Birgir HAFTHORSSON Islândia
Marco RUIZ Paraguai
Gary CLARK Inglaterra
Ulrich VAN DEN BERG África do Sul
Michael CURTAIN Austrália
Antti AHOKAS Finlândia
Jonathan CALDWELL Irlanda do Norte
Federico COLOMBO Itália
Henrik NYSTRÖM Suécia

 

JOGADORES ENTRE AS POSIÇÕES 119ª E 151ª NA ORDEM DE MÉRITO EUROPEIA 2008

Patrik SJÖLAND Suécia
Garry HOUSTON País de Gales
Fredrik ANDERSSON Suécia
Sam WALKER Inglaterra
Carlos RODILES Espanha
Thomas AIKEN África do Sul
Scott BARR Austrália
Iain PYMAN Inglaterra
James KAMTE África do Sul
Sion E BEBB País de Gales
Kane WEBBER Austrália
Martin WIEGELE Áustria
Peter WHITEFORD Escócia
Jan-Are LARSEN Noruega
Edoardo MOLINsARI Itália
Gareth PADDISON Nova Zelândia

 

AMADORES

José Maria JÓIA Portugal
Tiago RODRIGUES Portugal

FEATURE. J, 11 de Outubro de 2009

publicado por JN às 19:16
tags:

04 Outubro 2009

Começar por onde – pelo hotel Casa da Calçada, sumptuoso e íntimo, apostado no “charme” que volta connosco para casa em vez do “design” feito para tolerar, consumir e esquecer? Pelo Campo de Golfe de Amarante, sinuoso e compacto, decidido a levar ao pé da letra a promessa de “uma aventura na montanha”? Pelo restaurante Largo do Paço, ao mesmo tempo descontraído e requintado, onde se comem “escalopes de fois gras corado com maçã caramelizada”, “leitão bísaro cozinhado a dois tempos” e “soufflé de tangerina e coentros com pepitas de chocolate guaranda, sopa de baunilha e sorvete de coco”? Ou, antes, pela propriamente dita cidade de Amarante, pequena e bela, pobre e aristocrática, como que revivendo em simultâneo o espartano povoamento original de São Gonçalo, as inapeláveis cheias que um dia derrubaram a Ponte Velha ou a ousada base avançada das tropas aliadas decididas a resistir a Napoleão?

Pois comece-se por onde se quiser: Amarante vale a pena em qualquer circunstância, por qualquer ordem, seja qual for a urgência – o romance, os desportos de aventura, a gastronomia gourmet, o golfe. E, se lhe parece que estamos a falar numa grande cidade, desengane-se já: estamos a falar de uma pequena cidade de onze mil habitantes, rodeada de 40 freguesias com, toda juntas, pouco mais de 45 mil pessoas. Uma pequena cidade com um hotel de cinco estrelas de inatacável reputação internacional. Uma pequena cidade com um campo de golfe cuja história de pouco mais de uma década conta já com a recepção a oito campeonatos nacionais de profissionais. Uma pequena cidade com um restaurante galardoado com uma estrela no reputado Guia Michelin, mapa do tesouro da grande culinária mundial. Uma pequena cidade com um parque aquático como não há mais nenhum no Norte, incluindo a maior piscina de ondas do país e uma capacidade total para 1500 pessoas/dia. Uma pequena cidade com um rio heterogéneo e encantador, onde se podem praticar as maiores loucuras ou simplesmente pedalar uma gaivota num domingo à tarde.

A nossa visita começa pela Casa da Calçada, um dos seis membros portugueses da elegante cadeia Relais&Châteaux e, para muitos, um dos melhores hotéis portugueses. À nossa volta, os elementos neo-clássicos fazem sobressair a matriz romântica e a decoração quente e abundante cria um refúgio em cada recanto, uma história em cada metro quadrado de parede. E, no entanto, é ainda de espontaneidade que se faz o dia a dia. “Se a rapariga da piscina deixar cair uma travessa, aquilo que nós esperamos é que continue a ser apenas uma rapariga que deixou cair uma travessa, não um autómato com a cabeça automaticamente no cepo. Tentamos manter uma recepção elegante, mas de matriz rural, autêntica e humana”, explica António Aguiar Branco, antigo colaborador do Grupo Visabeira e hoje responsável máximo pelos projectos turísticos do grupo Mota-Engil, de que fazem parte tanto a Casa da Calçada como o Campo de Golfe de Amarante. “De resto, apenas podemos lamentar que, tendo tanto reconhecimento no estrangeiro, sejamos tão pouco reconhecidos aqui em Portugal. É o problema da mentalidade do Porto, em princípio um bom mercado para nós: aparentemente, e estando a menos de 60 quilómetros de distância, estamos demasiado perto para ir dormir e demasiado longe para ir comer.”
Pois quem perde são os portuenses. Os lisboetas, diga-se, também não aparecem muito. Mas os galegos tem representação – e, de há uns anos a esta parte, parece crescer todos os dias o número de visitantes de províncias como Leon, Zamora, Salamanca, mesmo Valladolid, Segovia ou Madrid. Muitos vêm passear, comprar antiguidades, conhecer o Tâmega. Uns tantos vêm de propósito para conhecer o restaurante Largo do Paço, onde o chef Ricardo Costa aportou (depois da experiência no Grande Hotel de Vidago, entretanto encerrado para obras) para recuperar a estrela Michelin ganha em 2005 e perdida em 2007. No dia em que o visitamos, somos mimados com um menu degustação incluindo doze longuíssimos pratos, incluindo entradas e saudações, patos de peixe e de carne, sobremesas e bolinhos a acompanhar o café. E, então, parece fazer sentido todo o trajecto daquele edifício – esse mesmo edifício que alberga, em simultâneo, o Largo do Paço e a Casa da Calçada. Com um núcleo central construído no século XVI (e destinado a servir então o papel de um dos principais palácios do Conde de Redondo), a mais bela casa senhorial do centro de Amarante foi sucessivamente sede do comando anglo-português durante as Campanhas Napoleónicas, palco de conspirações políticas durante a I República e centro gravitacional de toda a actividade empresarial do mítico Grupo Mota & Companhia, entretanto fundido com a Engil, Sociedade de Construção Civil, SA. E só por ele, pelo restaurante, já valia a pena o esforço da família Mota para transformar a casa num hotel, lutando durante mais de vinte anos contra as reticências do IPPAR, que adiou tanto quanto pôde a consolidação do projecto.

Por um lado, percebe-se o zelo do Instituto Português do Património Arquitectónico. Quem deixa os limites da Casa da Calçada e atravessa a Ponte Velha (ou Ponte de São Gonçalo), em direcção ao centro da cidade, rapidamente percebe que não é ilusão a coerência do conjunto urbano avistado a partir do outro lado: a grandeza contida da Igreja de São Gonçalo, os encontros de ocasião da Praça da República (e também chamada “de São Gonçalo”), as delicadas ilhargas com que os edifícios namoram o Tâmega, a reiterada presença do sagrado nos pormenores da arquitectura, nos olhares das gentes, nas rotinas de fim-de-semana. Íntima da Sub-Região Vale do Sousa e Baixo Tâmega, Amarante faz parte, hoje em dia, de uma das zonas mais deprimidas do país. Não tem indústria, tem pouco comércio – quase tudo nela é ruralidade e modéstia. E, todavia, persistem ainda por ali, de alguma forma, reminiscências da aristocracia que a marcou no passado. E persistem, naturalmente, as referências aos seus muitos artistas e intelectuais: o Museu Amadeo Souza-Cardoso, a Casa de Teixeira de Pascoaes, as paisagens de Agustina Bessa-Luís, as memórias de António do Lago Cerqueira ou António Cândido. Fim-de-semana perfeito? Fim-de-semana perfeito é aqui, onde anda como que um país inteiro numa simples casca de noz.
E, depois, há o golfe: um belíssimo campo de montanha, desafiante como sempre são os campos do Norte do país, de humor retorcido como sempre são os campos desenhados por Jorge Santana da Silva. Faça um favor a si próprio: leve o seu flop shot bem treinadinho (e, já agora, todo o resto do scramble), caso contrário mais vale ficar no hotel. Com as serras do Marão, da Aboboreira e do Alvão em frente, para além do vale onde se dispersam os buracos do meio de cada back, o Campo de Golfe de Amarante tem como principal desafio precisamente a perspectiva: a avaliação das distâncias, prejudicada pelos permanentes declives – e, como é natural, a escolha dos tacos correctos para cada shot. Aí, entre pinheiros, choupos e árvores de fruto, pode residir a diferença entre um birdie e um triplo bogey – e aí, obviamente, acabará por residir a diferença entre um bom ou mau jogo, sobretudo perante um course rate e um slope rate reduzidos, e portanto extremamente penalizadores para os handicaps mais baixos. Afinal, para quê estragar o melhor fim-de-semana do ano com uma frustração num campo de onde, embora tantos profissionais tenham saído a chorar, tantos e tantos iniciados saíram com um sorriso?

 

 

AMARANTE
FUNDAÇÃO: início do século XIII
CATEGORIA: cidade (desde 1985) e sede de concelho
FREGUESIAS: 40
POPULAÇÃO: 61 mil habitantes (concelho)
DISTRITO: Porto
FERIADO MUNICIPAL: 8 de Julho
PADROEIRO: São Gonçalo
REGIÃO: Norte
SUB-REGIÃO: Tâmega
ANTIGA PROVÍNCIA: Douro Litoral
PAÇOS DO CONCELHO: Alameda Teixeira de Pascoaes, 4600-011 Amarante
CIDADÃOS ILUSTRES: Teixeira de Pascoaes (escritor e poeta), Amadeo de Souza-Cardoso (pintor), Agustina Bessa-Luís (escritora), António do Lago Cerqueira (orador e político), António Carneiro (pintor), António Cândido (orador e político), António Pinto (maratonista olímpico), Marinho Pinto (advogado), Nuno Gomes (futebolista), Ricardo Carvalho (futebolista)
A VISITAR: Ponte de S. Gonçalo, Igreja e Convento de São Gonçalo, Museu Amadeo Souza-Cardoso, Casa de Teixeira de Pascoaes, Igreja de São Pedro, Mosteiro de Travanca, Solar dos Magalhães
SÍTIO OFICIAL: www.cm-amarante.pt

 

 

HOTEL CASA DA CALÇADA RELAIS&CHÂTEAUX

PROPRIEDADE: Mota-Engil Turismo
ENDEREÇO: Largo do Paço, nº 6, Cepelos, 4600-017 Amarante (GPS: 41º16’06’’N/8º04’41’’W)
INAUGURAÇÃO: 2001
CATEGORIA: 5 estrelas
DISTINÇÕES: Unesco World Heritage Site; Edifício Portugu~es de Relevante Interesse Arquitectónico, Histórico e Cultural; Chave de Ouro do semanário “Expresso”
DIRECTOR: António Aguiar Branco
SÍTIO OFICIAL: www.casadacalcada.com

INFRA-ESTRUTURAS E SERVIÇOS
QUARTOS: 30 (13 de luxo, 13 de luxo superior e 4 suites)
ESPAÇOS: restaurante, dois bares, sala de fumo, sala de jogo, sala de leitura, salões de banquetes, salas de reuniões, jardins, terraço de massagens panorâmicas, piscinas exteriores, solário, campo de ténis, vinha privada
ACTIVIDADES: golfe, ténis, natação, passeios de bicicleta
SERVIÇOS COMPLEMENTARES: estacionamento (gratuito), internet wireless, viatura com motorista, shuttle privado de e para o aeroporto
TARIFAS: variáveis, consoante os programas e as épocas do ano (tabela de € 155 a € 500)
RESERVAS: 255.410.830 (tel), 255.426.670 (fax), calcada@relaischateaux.com (email)

RESTAURANTE
GASTRONOMIA: portuguesa tradicional, com vinco contemporâneo
CHEF: Ricardo Costa
ESCANÇÃO: Adácio Ribeiro
MESTRE PASTELEIRO: José Bastos
DISTINÇÕES: 1 estrela Michelin
FUMADORES: não
RESERVAS: 255.410.830 (tel)
PREÇO MÉDIO: € 60 por pessoa

ACESSOS
SITUAÇÃO: 55 km a NE da cidade do Porto
ACESSOS: pela A4, sair em Amarante Este, virar na primeira à direita em direcção ao Centro, virar na primeira rotunda à esquerda para o Parque Florestal, seguir na segunda rotunda em frente até à Ponte Velha

 

 

CAMPO DE GOLFE DE AMARANTE

PROPRIEDADE: Sociedade do Golfe de Amarante, SA
ENDEREÇO: Quinta da Deveza, Fregim, 4600-593 Amarante (GPS: 41º15’31’’N/8º06’54’’W)
INAUGURAÇÃO: 1997
DISTINÇÕES: Troféu Fernando Cabral 2004 (para a sociedade de golfe do ano)
PRINCIPAIS PROVAS: Campeonato Nacional de Profissionais entre 1998 e 2005
DIRECTOR: Pedro Fonseca
GOLF-PRO: João Silva
Nº DE SÓCIOS: 120
SÍTIO OFICIAL: www.amarantegolfclube.com

ARQUITECTURA
ARQUITECTO: Jorge Santana da Silva
ÁREA: 34 ha
TIPO: montanha, parkland
BURACOS: 18
PAR: 68
COMPRIMENTO: 5030 (brancas), 4604 (amarelas), 4089 (vermelhas)
COURSE RATE: 66,1 (brancas), 64,3 (amarelas), 65,6 (vermelhas)
SLOPE RATE: 120 (brancas), 117 (amarelas), 18 (vermelhas)
DRIVING RANGE: sim
PITCHING GREEN: sim
PUTTING GREEN: sim

QUOTAS, GREENFEES E SERVIÇOS
QUOTA ANUAL DE SÓCIO: € 1350 (utilização ilimitada)
JÓIA DE INSCRIÇÃO: não tem
VOLTA DE 18 BURACOS: € 50 (semana) e € 75 (fim-de-semana), fora convénios e descontos para juniores (50%)
VOLTA 9 BURACOS: € 35 (semana) e € 50 (fim-de-semana), fora convénios e descontos para juniores (50%)
PROMOÇÕES ESPECIAIS: durante a semana, € 50 por dois greenfees e um buggie; às quintas-feiras, € 30 por greenfee+buggy partilhado+almoço
BUGGY: € 28 (semana) € 35 (fim-de-semana)
CADDIE: não tem
TROLLEY ELÉCTRICO: não tem
TACOS DE ALUGUER: € 30
COURSE GUIDE: € 3
TOKEN: € 3 (cerca de 50 bolas)
LIÇÕES: € 25 (25 minutos), € 40 (50 minutos)
MARCAÇÕES: 255.446.060 (tel), 255.446.202 (fax), golfeamarante@tamegaclube.com (email)

ACESSOS
SITUAÇÃO: 58 km a NE da cidade do Porto
ACESSOS: pela A4, sair em Amarante Oeste, seguir as placas “Fregim” e, depois, as placas “Golfe”

REPORTAGEM. J, 4 de Outubro de 2009

publicado por JN às 23:09

01 Outubro 2009

Contada pelo André, já a noite se fechava, a história era tão diferente que dificilmente parecia a mesma a que eu assistira (e até, de alguma forma, protagonizara). Regressávamos de automóvel, eu depois de um torneio em que jogara mal e ele ao fim de cinco horas a vaguear pelo campo, assistindo aos nossos swings trôpegos, e de outras duas de prolongado almoço na companhia da malta toda. Estava interessado no jogo e decidira, como uma esposa diligente, acompanhar-me à Aroeira. Surpreendentemente, não se aborrecera. Mas a impressão com que ficara sobre esse interminável buraco 19 era tão distinta daquela que eu conservava que quase parecia não tratar-se do mesmo almoço.

“Mas são todos assim egocêntricos, os golfistas?”, perguntou-me. Estive para zangar-me, mas decidi respeitar a coragem: num país com os transportes públicos que Portugal tem, um tipo só arrisca mandar bocas ao pé da Fonte da Telha se tiver a certeza absoluta daquilo que diz. “Quer dizer: chega-se ao fim e está tudo louco por contar a sua ronda toda, pancadinha a pancadinha”, explicou. “A certa altura, há um que diz que fez birdie no 11 e logo os outros todos correm a dizer o que fizeram no 11 – como fizeram, onde estava a bola e em que bateu e como caiu no copo. Se um diz que lhe dói um braço, começa tudo a dizer o que lhe dói. Se um se queixa do sol, o outro queixa-se do vento – que esse, sim, lhe estragou o jogo. Está tudo a falar para dentro, no fundo. E parece que aquela cerveja só serve para reunir ideias que permitam falar ainda mais para dentro.”
Tive de dar a mão à palmatória: nós, golfistas, somos efectivamente uns egocêntricos inssuportáveis. Ainda aqui há uns dias um amigo meu fez um hole-in-one – e, embora nos esforçássemos por ouvir o seu relato, ali ficámos todos, a olhar para a bandeira do 4, tentando falar primeiro do que ele e explicando como é que não tínhamos nós próprios feito um hole-in-one. E talvez seja essa, na verdade, a nossa grande fragilidade. “Kill your ego for better golf”, anunciam os prospectos de inúmeras clínicas americanas. “São as más decisões que dão cabo do seu golfe. Você passa a vida a jogar o driver onde não devia jogar o driver, a tentar chegar ao green a que nunca conseguirá chegar, a fazer o pitching que não sabe fazer. Está a deixar que o ego dê cabo de si. Domine-o. Aniquile-o. Sem ego, você será finalmente um grande golfista. Não tente ser o jogador que não é”, explicam, por estas ou por outras palavras.
E eu começo a achar que estão erradas. O golfe é muito mais do que aqueles sete quilómetros a bater com um pau numa bola – e, por muito importante que isso seja, é também muito mais do que o número de vezes que é preciso bater com o pau na bola até, enfim, acabar de percorrer os sete quilómetros. O golfe é também uma “ego trip” – uma viagem egocêntrica. É um teste à nossa habilidade, à nossa agilidade, à nossa capacidade de concentração – e nesse sentido, talvez tenhamos vantagens em não pensar em nenhuma delas, nem na habilidade, nem na agilidade, nem na capacidade de concentração, sob pena de as querermos de mais. Há que reduzir o desejo – há que reduzir o desejo sempre. Mas não esmagá-lo. Não aniquilá-lo. Não exterminá-lo. Bem maltratado anda já o nosso desejo, com toda esta crise, toda esta mentira e todo este imposto. Bem maltratado anda já o nosso ego. E de pouco serviria o golfe se não fosse também o espaço onde, ainda que apenas durante uma manhã por semana, podemos pensar em nós – só em nós e em mais nada.
Se, num buraco 19, vejo alguém a ouvir pacientemente o relato de toda a gente, com interesse e curiosidade (e sem sequer esboçar um relato próprio), tenho logo pena dele. Pessoas sem ego podem jogar regularmente na casa das setenta pancadas, podem até fazer abaixo do par do campo: a verdade é que nunca gozarão um resultado com a alegria e o despojamento de um egocêntrico cuja masculinidade está em jogo, todos os sábados, ao longo daqueles 18 buracos. Pior: pessoas sem ego podem cair no lago do 18 ou não conseguir sair do bunker do 17 ou perder a bola no mato do 16, destruindo com um só shot mal batido toda uma tarde de perfeição: de maneira nenhuma gozarão esse fracasso como ele deve ser gozado – com a tristeza e com a revolta, com a mágoa e com a lamúria que ele deve ser gozado.
André, felizmente, persistiu no jogo. Da última vez que jogámos juntos, já ia em handicap 22 – e, quando chegámos à club house, mais ninguém conseguia falar senão ele, gabando-se do facto de ter, finalmente, conseguido jogar abaixo das 90. É um egocêntrico, claro. Fico feliz por ele.

CRÓNICA DE GOLFE ("Tee Time"). Jornal do Golfe, Outubro de 2009

publicado por JN às 11:31

subscrever feeds
pesquisar neste blog
 
joel neto

Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), "O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003) e “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado... (saber mais)
nas redes sociais

livros

"O Terceiro Servo",
ROMANCE,
Editorial Presença,
2000
saber mais...


"O Citroën Que Escrevia
Novelas Mexicanas",
CONTOS,
Editorial Presença,
2002
saber mais...


"Al-Jazeera, Meu Amor",
CRÓNICAS,
Editorial Prefácio
2003
saber mais...


"José Mourinho, O Vencedor",
BIOGRAFIA,
Publicaçõets Dom Quixote,
2004
saber mais...


"Todos Nascemos Benfiquistas
(Mas Depois Alguns Crescem)",
CRÓNICAS,
Esfera dos Livros,
2007
saber mais...


"Crónica de Ouro
do Futebol Português",
OBRA COLECTIVA,
Círculo de Leitores,
2008
saber mais...

arquivos
2011:

 J F M A M J J A S O N D


2010:

 J F M A M J J A S O N D


2009:

 J F M A M J J A S O N D


2008:

 J F M A M J J A S O N D


2007:

 J F M A M J J A S O N D