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22 Novembro 2009

Alguém disse que foi o melhor golfista a jogar em Portugal desde Henry Cotton, nos anos 1960 – e o mais provável é que haja alguma verdade nisso. Duplo campeão do US Open, Retief Goosen já ganhou em todos os continentes – e raro é o ano, desde que se tornou profissional (1990), que não ganha pelo menos um ou dois torneios. Aos 40 anos, o sul-africano passou por Portugal para jogar o seu primeiro Portugal Masters, cuja vitória disputou até ao fim. Pelo meio, sentou-se à mesa com a J para uma conversa em que defendeu o papel de John Daly na popularização do golfe, disse esperar envelhecer como Kenny Pery para poder disputar os Jogos Olímpicos de 2016 – e, sobretudo, explicou como o swing de golfe passa por drásticas mudanças desde há uns anos a esta parte.

Ganhou este ano o Transitions Championship, o seu primeiro torneio do PGA Tour em mais de quatro anos. Como foi voltar a sentir essa sensação?
Foi maravilhoso. E ainda tive outras oportunidade de ganhar.
No Canadian Open, por exemplo.
Sim. E no AT&T, e no The Tour Championship. Foi um bom ano para mim. Joguei de forma consistente. Nos últimos anos, era uma boa ronda na quinta e uma má ronda na sexta, uma boa ronda no sábado e outra má ronda no domingo...
O que se passava?
Andei a trabalhar em algumas mudanças no meu swing. Por outro lado, estava a jogar mal o putter. Melhorei bastante este ano. No fim, isso é sempre o mais importante. Basicamente, toda a gente bate bem na bola a partir do fairway.
Porque se sente na necessidade de mudar o swing? Não falta quem defenda que é o mais bonito do PGA Tour…
Tenho andado a trabalhar um bocadinho no backswing…
A encurtá-lo?
A verticalizá-lo um bocadinho mais, talvez.
Têm sido tempos complicados para os jogadores sul-africanos. Ernie Els anda com problemas de regularidade, Trevor Immelman desapareceu depois de ganhar o The Masters, Tim Clark nunca mais ganhou após o Australian Open…
Bom, o Charl Schwartzel tem estado razoável. E o Richard Sterne está menos bem este ano, mas em 2008 não esteve mal. Mas talvez tenha razão, sim: talvez, de facto, não estejamos, por esta altura, ao nosso melhor nível. A não ser talvez o James Kingston, ninguém está a jogar o golfe que pode.
O que se passa?
Bom, temos outros jovens jogadores prontos a explodir. Simplesmente é difícil arranjar um bom patrocinador – e andar no tour é caríssimo…
Certo. Mas é só coincidência ou, apesar da aparente perfeição, o swing sul-africano, de tão clássico, está a ficar um pouco desactualizado?
Bom, acho que nem sempre sentimos que o nosso swing é perfeito… (risos)
Claro. Mas olhemos para Lucas Glover, que venceu este ano o US Open. Para Ricky Barnes, que quase o ganhava. Para Jim Furyk, que teve um excelente ano. Para uma série de jogadores americanos actualmente em grande nível, aliás: não são a prova viva de que o swing clássico está um bocadinho datado?
Penso que sim. O swing de golfe tornou-se muito mais rígido e firme. O Lucas Glover é, efectivamente, um bom exemplo disso: swing compacto, pouca estética, grandes distâncias, boa precisão. Quer dizer: não tem nada a ver com o Ben Hogan, o Sam Sneed ou tantos outros jogadores do passado, cujo swing era na verdade bem mais “preguiçoso”. Penso que eu ou o Ernie estamos muito mais próximos destes, em termos de estilo. Hoje em dia, é preciso ser mais forte, mais duro, mais competitivo – no fundo, mais agressivo. Há, de facto, aspectos técnicos importantes a actualizar no nosso jogo. E penso que talvez estejamos a sofrer da falta disso, eu e outros jogadores sul-africanos.
Mas porque é que o swing mudou tanto?
Por causa da tecnologia. Antigamente as varetas eram menos rígidas, pelo que o timing era absolutamente decisivo. Hoje, as varetas são mais duras, as bolas voam mais alto – e um swing mais knock-down, mais batido, pode produzir melhores resultados. Porque, no fundo, tira melhor partido da tecnologia – e, a este nível, uma diferença subtil pode ser a diferença toda.
E o que se faz para conseguir actualizar um swing?
Cada caso há-de ser um caso, suponho. Eu tenho tendência para relaxar um bocadinho o backswing. É nisso que estou a trabalhar agora.
Divide-se actualmente entre o PGA Tour e o European Tour. Em qual prefere jogar?
Eu gosto do PGA Tour, mas prefiro jogar no European Tour. É muito mais amigável.
“Amigável”?
Sim. Os jogadores são mais íntimos uns dos outros. Ficamos nos mesmos hotéis, jantamos nos mesmos restaurantes… Na América, é cada um para o seu lado. Nunca se vê ninguém depois de sair do campo.
É uma questão de competitividade?
Não sei. A Europa também é muito competitiva e disciplinada. Se alguma vantagem o PGA Tour tem, é só a profundidade do field: há mais jogadores capazes de ganhar em cada torneio.

E, portanto, mais jogadores que não se dão bem uns com os outros – é isso?
Não. Damo-nos todos bem. Mas na América há um sentido de família muito intenso. Os jogadores viajam muito com as famílias e, portanto, praticamente não se deixam ver depois dos jogos. Tenho pena, porque gosto do convívio.
Tem uma casa em Lake Nona, na Florida – e Ernie Els, Sergio Garcia, Ian Poulter, Nick Faldo, Henrik Stenson ou Annika Sorenstam são seus vizinhos. Costumam ver-se?
Bom, na verdade, o Ernie e o Sergio já venderam as casas deles. Mas vejo muito o resto da malta. Sobretudo nas semanas antes dos majors, em que nos cruzamos todos nas áreas de treino.
Acha que a Race To Dubai alguma vez conseguirá ultrapassar – ou mesmo igualar – a FedEx Cup?
Pode ser, nunca se sabe. Na verdade, este ano foi o primeiro em que a FedEx Cup foi um verdadeiro sucesso. A Race To Dubai está mesmo a começar e já está a ser bastante interessante, com tanta disputa no topo.
Mas, em termos de prize money, subsiste uma grande diferença...
É verdade. Mas quem sabe quanto tempo esse dinheiro vai durar na América também? Vivemos momentos complicados – e ainda ninguém sabe como é que se sai daqui, tanto quanto me parece.
O facto é que, até agora, foi precisamente a Race To Dubai a sofrer mais com esta crise, vendo-se inclusive obrigada a reduzir o os seus prize funds.
Sim, e por um lado foi uma decepção. Senti desde o início que o European Tour estava a exagerar um bocadinho – e o facto é que estava. Foi um tiro no pé.
Envolveu-se numa controvérsia no ano passado, ao fim do US Open, sugerindo que Tiger Woods estaria a fingir a lesão no joelho para engrandecer a sua própria vitória. O que o levou a isso?
Isso foi um bocadinho descontextualizado. Na verdade, eu não era o único a dizê-lo – apenas foi o único a ser citado dizendo-o. O facto é que ele só parecia queixar-se quando batia maus shots, nunca quando batia bons. Mas estávamos todos enganados. Ele estava de facto lesionado.
Falou com ele mais tarde?
Falei. Escrevi-lhe, expliquei a situação – e depois ainda falei com ele pessoalmente. Está tudo bem.

São amigos? Pode dizer isso?
Somos amigos. Se nos encontramos numa club house, paramos a conversar. A questão é que ele tem sempre dez guarda-costas à volta, pelo que é difícil aproximarmo-nos.
É reconhecido como uma pessoa calma e tranquila. As pessoas ficaram um tanto surpreendidas com a dureza das suas palavras.
Depende.
Depende do quê?
Toda a gente me vê como uma pessoa calma e tranquila, mas na verdade ninguém sabe como é que eu sou com a minha família, com as minhas crianças, com os meus amigos.
Mas alguns…
Quer dizer, vêem-me em campo a fazer um putt – o que é que esperavam? Um putt bate-se tranquilamente, não?
Mas há jogadores..
Acho que é uma imagem má, percebe? Não gosto mesmo nada que me considerem tranquilo. Não sou assim, pronto. Quando estou a trabalhar, sou uma coisa. Mas dentro de mim, sou outra completamente diferente.
Há um aforismo de golfe que diz que a melhor maneira de conhecer uma pessoa é jogar 18 buracos com ela. Não é exacto, o aforismo?
Acho que é um bocadinho diferente se se trata de golfe profissional (ou de alta competição em geral) ou de golfe mais social.
Tanto quanto pode (ou quer) dizer-me, quão diferente é Retief Goosen fora dos campos?
É pessoal. Mas não sou o mesmo.
Mas produz vinho, por exemplo. É ou não um teste à paciência, produzir vinho? Plantar, esperar pela colheita, confiar que a sorte vai impedir a intempérie, esperar ainda um pouco mais – é preciso ser uma pessoa calma para fazer isso, não?
Bom, não sou eu que faço o vinho. Eu só o bebo. E muito (risos). Mas, a sério, é verdade. Em 2006, por exemplo, tivemos de vender as uvas todas a uma empresa de vinho barato. É precisa paciência. E talvez eu tenha alguma, pronto. Mas não como as pessoas pensam.

 

ENTREVISTA. J, 22 de NOVEMBRO de 2009

publicado por JN às 09:05

18 Novembro 2009

Não, ainda não estamos lá. Ao vencer, no final de Agosto, a terceira edição da FedEx Cup, o norte-americano Tiger Woods encaixou automaticamente dez milhões de dólares (sem contar com o prize moneys dos torneios em que pontuara). Pelo contrário, quem vencer a Race To Dubai, que se conclui no próximo fim-de-semana nos Emiratos Árabes Unidos, não ganhará mais de 1,5 milhões de dólares (mais prize moneys também).

E, no entanto, o mínimo que se pode dizer desta primeira edição do campeonato anual com que o European Tour tenta responder à criação da americana FedEx Cup é que foi um sucesso. Responsáveis e observadores são unânimes: houve mais dinheiro do que nunca, houve mais atenção da parte dos media do que em qualquer altura – e, ainda por cima, a disputa pelo primeiro lugar foi uma das mais renhidas de sempre, se não mesmo a mais renhida.
Pois tudo se conclui no próximo domingo no Dubai, mais concretamente no Earth Course do Jumeirah Golf Estates. Hoje ainda estão a finalizar-se dois torneios: o regular UBS Hong Kong Open e o oposite field JBWere Masters. Aliás, entre os dias 26 e 29 ainda se disputará, em Mission Hills (China), a Omega Mission Hills World Cup. Mas esta já não conta para a classificação – e os primeiros dois, podendo mudar alguma coisa na frente, ainda não decidirão nada.
O Dubai, sim. Do Dubai, e realizada a primeira edição do novo Dubai World Championship presented by: DP World, já ninguém sairá sem a sua classificação final anual e o respectivo prize money (isto se ficar entre os 15 primeiros, entre os quais serão repartidos os 7,5 milhões de dólares em causa). E o facto é que a luta na frente está ao rubro. A uma semana do fim da competição, e ainda sem os resultados do UBS Hong Kong Open e do JBWere Masters, há pelo menos 15 jogadores (ou 14, tendo em conta a lesão de Paul Casey) em condições de inscreverem o seu nome na primeira entrada do palmarés do novo campeonato anual europeu.
Lee Westwood leva vantagem. Com a vitória no Portugal Masters, o inglês passou para a frente da classificação – e ainda não a largou. Para ele, seria o encerramento perfeito para um ano, no mínimo, instável. Perdida em 2008 a sua segunda Ordem de Mérito Europeia (ganhara-a em 2000), depois de muito tempo à frente e de uma recta final de temporada inferior à do sueco Robert Karlsson, Westwood passou 2009 aos altos e baixos, voltando a fazer muitos top ten, mas só vencendo em Portugal– e lamentando amargamente, por exemplo, os três putts no último buraco do British Open, que o excluíram do playoff.
E, porém, a concorrência está mesmo ali. O jovem norte-irlandês Rory McIlroy, que dominou a classificação até ao Portugal Masters, arrancou na semana passada uma brilhante última ronda (63) para acabar o HSBC Champions em quarto lugar, apertando o cerco ao adversário. O também jovem alemão Martin Kaymer conseguiu igualmente um top ten, mantendo-se a menos de 100 mil euros do topo de classificação. O inglês Ross Fisher, embora não tenha jogado propriamente bem, ainda segurou um top 30, conservando o elã trazido da extraordinária vitória sobre o americano Anthony Kim na final do Volvo Masters. E, de resto, há ainda outros 11 jogadores a uma distância de menos de 1,25 milhões de dólares do líder, podendo portanto, com um primeiro lugar o Dubai, acabar o ano à frente.
“O European Tour ofereceu-se para reduzir o prize money, tendo em conta a situação económica internacional, e propôs-se reanalisar anualmente a situação, de forma a reflectir com precisão o desenvolvimento global da economia”, anunciou George O’Grady, CEO do European Tour, explicando a descida dos prémios em jogo de 20 para 15 milhões de dólares. “Mas temos assegurado que o nosso acordo prossegue essencialmente como planeado. E isso é que é o mais importante”, acrescentou.
Ao contrário do circuito americano, que apenas deverá sofrer os principais efeitos da crise a partir de 2011 (embora já tenha tido vários torneios cancelados e/ou rebaptizados este ano), a Race To Dubai sofreu com a depressão global logo no primeiro ano. Para muitos, é mesmo uma extraordinária vitória (e uma vitória, em particular, de George O’Grady pessoalmente) que tenha chegado a bom porto neste arranque, tal o negrume das nuvens que chegaram a pairar sobre ela.
De resto, foi um ano espectacular. Para além da atenção granjeada e da competitividade ostentada, a primeira edição da Race To Dubai há-de ser recordada por uma miríade de pequenas e grandes histórias com destino à eternidade. Depois de Pablo Martin ter-se tornado, em 2007, no primeiro amador a vencer no European Tour (precisamente no Open de Portugal), o circuito europeu assistiu este ano aos triunfos de outros dois amadores: o neo-zelandês Danny Lee, de 19 anos (no Johnnie Walker Classic, em Fevereiro), e o irlandês Shane Lowry, de 23 (no The 3 Irish Open, em Maio). E, no pólo oposto, Tom Watson esteve à beira de, aos 59 anos, tornar-se no mais velho vencedor da história do mais importante torneio europeu (o British Open), fazendo três putts no 72º buraco para cair num playoff com Stewart Cink, em que acabou inapelavelmente batido.
Mesmo para Portugal, foi uma excelente temporada. Depois de ter perdido o cartão do European Tour para 2009, José-Filipe Lima empenhou-se a fundo no Challenge Tour e acabou o ano em segundo lugar, recuperando com facilidade a sua isenção para a primeira divisão. Os três torneios nacionais, nomeadamente o Open da Madeira, o Open de Portugal e o Portugal Masters, correram muito bem – e o Masters não só teve o melhor field de sempre, como mereceu excelente atenção da parte dos media internacionais, até em resultado do triunfo de um jogador de top mundial.
Ao todo, e disputada a Omega Mission Hills World Cup, a época europeia (e, portanto, a primeira edição da nova Race To Dubai) terá compreendido 54 torneios realizados em 27 países diferentes e com um total de 154 milhões de euros distribuídos em prize money. Um total de 368 profissionais (dos quais três portugueses, José-Filipe Lima, Ricardo Santos e Tiago Cruz) contaram para a classificação. O vencedor receberá os tais 1,25 milhões de dólares, mais o prestigiado Troféu Harry Vardon, uma isenção de sete anos para o European Tour e a entrada directa para a categoria 1 na qualificação para os torneios regulares (a mesma que contempla os vencedores dos torneios do Grand Slam).
Para o Dubai World Chapionship desta semana estão qualificados apenas os 60 primeiros, depois de apurados os pontos acumulados no UBS Hong Kong Open (em número significativo) e no JBWere Masters (em número pouco mais do que irrelevante). Em jogo estarão, na prática, dois prize moneys diferentes: 7,5 milhões de dólares (as competições arábicas continuam a premiar em dólares, não em euros) para distribuir entre os 60 participantes e outros 7,5 para distribuir entre os tais 15 primeiros do campeonato anual.
Os responsáveis do European Tour visitaram na semana passada o Jumeirah Golf Estates e ficaram encantados com as actuais condições do Earth Course, assim como com as infra-estruturas reunidas pelas autoridades locais para a circulação do público e a transmissão televisiva (que chegará a Portugal via SporTV). O campo é da autoria do australiano Greg Norman e tem como particularidade o facto de os últimos quatro buracos (dois par 4, um par 3 e um par 5) medirem, no total, exactamente uma milha (ou 1609 metros). “É um desafio extraordinário”, comentou David Garland, o chefe da delegação. “Será um glorioso clímax para a época completa”.


UM TORNEIO PARA A ETERNIDADE

É o fim da primeira edição da grande corrida com que a Europa respondeu à americana FedEx Cup. Ao todo, serão disputados 54 torneios e distribuídos mais de 154 milhões de euros em prémios. Mas os 15 milhões de dólares em jogo esta semana é o dinheiro mais apetecível de todos.

Dubai World Championship presented by: DP World
Campo:
Earth Course, Jumeirah Golf Estates, Dubai, Emiratos Árabes Unidos
Data: 19-22 de Novembro
Prize Money do evento: $ 7,500,000 (mais $ 7,500,000 relativos à Race to Dubai, com contas a fazer no final deste evento)
Campeão em título: novo evento

TRANSMISSÃO SPORTV:
de quinta a domingo, 08.00-13.00


MAIS RENHIDO DO QUE NUNCA

Paul Casey está lesionado, pelo que a corrida, agora, é sobretudo entre os quatro da frente. Mas a disputa foi, em todo o caso, mais renhida e excitante do que nunca. E, depois do WGC - HSBC Champions (antes do UBS Hong Kong Open deste fim-de-semana, pois), a classificação estava assim:

POSIÇÃO JOGADOR PAÍS TORNEIOS JOGADOS PRIZE MONEY
1 Lee WESTWOOD Inglaterra 24 €2,404,579
2 Rory MCILROY Irlanda do Norte 23 €2,352,259
3 Martin KAYMER Alemanha 19 €2,332,544
4 Ross FISHER Inglaterra 21 €2,105,047
5 Paul CASEY Inglaterra 14 €2,014,063
6 Geoff OGILVY Austrália 11 €1,673,814
7 Oliver WILSON Inglaterra 23 €1,668,252
8 Simon DYSON Inglaterra 30 €1,483,263
9 Ernie ELS África do Sul 16 €1,375,704
10 Ian POULTER Inglaterra 13 €1,369,702

 

FEATURE. J, 15 de Novembro de 2009

publicado por JN às 17:50

08 Novembro 2009

“Um jogador que não treine em condições de torneio terá sempre mais dificuldades em desenvolver o seu jogo. Uma coisa é trabalhar no driving range, outra é submeter-nos ao calor da competição”, diz Daniel Silva, primeiro português a vencer no European Tour (Jersey European Airways Open 1992). Pois foi precisamente essa a ideia que presidiu à criação do novo Iberian Golf Tour, com arranque marcado para o próximo dia 29, em Castro Marim. Organizado pela promotora portuguesa IberChallenge, e de resto já apadrinhado pelo European Tour, é o quinto circuito satélite a nascer na Europa, num leque que compreende o Euro Pro Tour (Reino Unido), a Nordic League (Escandinávia), o EDP Tour (Alemanha) e o Alps Tour (países alpinos). As inscrições (www.igtour.net) já estão abertas, tanto para profissionais portugueses como estrangeiros – e a expectativa da organização é que alguns dos mais de 400 jogadores que serão excluídos do European Tour e do Challenge Tour, ao final da segunda fase da Qualifying School que se conclui dia 26, possam vir a aderir .

“É uma ideia antiga, que nasceu da necessidade de proporcionar um tour competitivo aos profissionais portugueses”, diz Pedro Silva, proprietário da IberChallenge e director do novo circuito. “Entretanto, decidimos alargar o âmbito geográfico da iniciativa. E a verdade é que, apesar da crise internacional, a receptividade tem sido excelente, tanto da parte dos jogadores como da parte dos parceiros que tínhamos em perspectiva.” O circuito começa com um total de 13 torneios, todos a realizar entre o Algarve e a Andaluzia (ver quadro em anexo), mas cultiva a esperança de conseguir alargar-se ainda este Inverno a mais duas séries, uma a realizar entre Lisboa e a região Centro (Abril) e outra entre o Porto e a região Norte (Maio). A ideia é, dentro de dois ou três anos, contar já com 25 torneios anuais. A agenda será sempre programada por séries, com apenas dois dias de paragem entre eventos: o primeiro para a resolução de campeonatos prejudicados pelo mau tempo (ou, no caso de não haver pro-am, para o simples descanso) e o segundo para a ronda de treino no campo seguinte.
Todos os eventos serão realizados ao longo de 54 buracos, sem cut. Os prémios monetários não são milionários, mas o objectivo também não é esse. Interessados em fomentar a circulação de golfistas no Algarve, na Andaluzia e na Península Ibérica em geral durante a época baixa, com claras vantagens para a indústrias hoteleiras portuguesa e espanhola, a IberChallenge e os seus parceiros acenam sobretudo com uma oportunidade de treino de competição em época vagamente off season, com condições de torneio profissional e (desejavelmente) boa competitividade pelos primeiros lugares. “Estou neste momento a estudar a minha agenda para 2010”, diz José-Filipe, o principal jogador português do momento, segundo classificado do Challenge Tour e já com cartão assegurado para o European Tour de 2010. “Mas é seguro que venho jogar o circuito. O formato compacto das séries e a qualidade dos pacotes de viagens e estadias é excelente. Tenho a certeza de que muita gente se vai juntar a mim.” O clima, a hospitalidade, a segurança e a qualidade dos campos de golfe são há muito atributos reconhecidos do golfe português, múltiplas vezes galardoado e com um contributo anual de cerca de dois mil milhões de euros para o Produto Interno Bruto.
Para já, não são muitos os inscritos. A notícia é recente, a Qualifying School ainda não acabou – e, para além disso, muitos profissionais portugueses (por exemplo) vêm perdendo ritmo e interesse competitivos de há alguns anos a esta parte, em resultado da crescente escassez de provas à sua medida. Pedro Silva espera, no entanto, que no dia 29 haja já entre 60 e 70 jogadores para alinhar à partida do I Castro Marim IGT Open, marcado para o Castro Marim Golfe. “Vamos oferecer a quota anual à maior parte dos jogadores portugueses, que assim apenas terão de pagar as inscrições em cada torneio. E estamos confiantes de que outros jogadores europeus, incluindo do Centro e do Norte do continente, aderirão também”, diz. António Sobrinho, dez vezes campeão nacional e um dos jogadores que já se juntaram à iniciativa, garante que os colegas estrangeiros não se sentirão defraudados. “Portugal, e o Algarve em particular, é um dos melhores destinos de golfe do mundo. Quando no Norte da Europa há neve, aqui, muitas vezes, nem sequer há frio ou chuva. É um excelente local para treinar – e, se não o sabe ainda, toda a gente o vai perceber depressa.”
O circuito está aberto a jogadores profissionais de todas as categorias (incluindo senhoras e seniores) e a amadores com handicap até 2.0. Para participar, os golfistas terão de pagar algo entre os € 252 e os € 350 por torneio, consoante sejam ou não membros oficiais do circuito. A quota anual de membro custa € 200. “Queremos reduzir os custos dos jogadores ao mínimo”, assegura Pedro Silva. Seis campos portugueses, dois campos espanhóis e as empresas Hotel Alcazar-Monte Gordo, Golf Algarve Magazine, Flavour Productions e Triplesky Design Studio são os primeiros parceiros garantidos. Em estudo está a possibilidade de seduzir uma lista de patrocinadores com dimensão suficiente para aumentar significativamente os montantes dos prémios em jogo. Para já, e ao longo desta primeira fase, a lógica será a do pay-and-play, modelo muito em voga nos EUA. Os prémios monetários, que contemplarão os primeiros 30, 35 ou 40 classificados de cada evento (consoante a dimensão do field), serão pagos no último dia de cada torneio, o mais tardar uma hora a seguir à entrega dos troféus. Uma percentagem (ainda não divulgada) das receitas reverterá para a Fundação Bomfim, uma organização humanitária a operar nas áreas mais remotas de Angola.

 

 

ALGARVE, ANDALUZIA E NÃO SÓ

O novo Iberian Golf Tour arranca com 13 eventos distribuídos por três séries. Dentro de cada uma delas, há apenas dois dias de descanso entre torneios. Em estudo estão mais duas séries, eventualmente com arranque já esta temporada: uma entre Lisboa e a região Centro, em Abril de 2010, e outra entre o Porto e a região Norte, em Maio. A ideia é, num futuro breve, dispor de um circuito anual com um total de 25 torneios ao longo da época baixa. O primeiro evento é já dia 29, em Castro Marim.

SÉRIE 1 (29 DE NOVEMBRO A 13 DE DEZEMBRO DE2009)

1. Castro Marim IGT Open
Castro Marim Golfe
VOLTA DE TREINO: 29 de Novembro
DIAS DE TORNEIO: 30 de Novembro a 2 de Dezembro
LOCALIDADE: Castro Marim, Algarve, Portugal

2. Esuri IGT Classic
Esuri Golf Field
VOLTA DE TREINO: 4 de Dezembro
DIAS DE TORNEIO: 5 a 7 de Dezembro
LOCALIDADE: Ayamonte, Andaluzia, Spain

3. Quinta do Vale IGT Series Final
Quinta do Vale
VOLTA DE TREINO: 9 de Dezembro
DIAS DE TORNEIO: 10 a 12 de Dezembro (Pro-Am a 13 de Dezembro)
LOCALIDADE: Castro Marim, Algarve, Portugal

 

SÉRIE 2 (13 DE JANEIRO A 6 DE FEVEREIRO DE 2010)

4. Pestana Vale da Pinta IGT Open
Vale da Pinta
VOLTA DE TREINO: 13 de Janeiro
DIAS DE TORNEIO: 14 a 16 de Janeiro
LOCALIDADE: Carvoeiro, Algarve, Portugal

5. Pestana Gramacho IGT Classic
Pestana Gramacho
VOLTA DE TREINO: 18 de Janeiro
DIAS DE TORNEIO: 19 a 21 de Janeiro
LOCALIDADE: Carvoeiro, Algarve, Portugal

6. Pestana Silves IGT Challenge
Pestana Silves
VOLTA DE TREINO: 23 de Janeiro
DIAS DE TORNEIO: 24 a 26 de Janeiro
LOCALIDADE: Silves, Algarve, Portugal

7. Pestana Alto IGT Championship
Pestana Alto Golf
VOLTA DE TREINO: 28 de Janeiro
DIAS DE TORNEIO: 29 a 31 de Janeiro
LOCALIDADE: Carvoeiro, Algarve, Portugal

8. Pestana Vale da Pinta IGT Series Final
Vale da Pinta
VOLTA DE TREINO: 2 de Fevereiro
DIAS DE TORNEIO: 3 a 5 de Fevereiro (Pro-Am a 6 de Fevereiro)
LOCALIDADE: Carvoeiro, Algarve, Portugal

 

SÉRIE 3 (18 DE FEVEREIRO A 14 DE MARÇO)

9. Quinta do Vale IGT Open
Quinta do Vale
VOLTA DE TREINO: 18 de Fevereiro
DIAS DE TORNEIO: 19 a 21 de Fevereiro
LOCALIDADE: Castro Marim, Algarve, Portugal

10. Castro Marim IGT Classic
Castro Marim Golfe
VOLTA DE TREINO: 23 de Fevereiro
DIAS DE TORNEIO: 24 a 26 de Fevereiro
LOCALIDADE: Castro Marim, Algarve, Portugal

11. El Rompido Norte/Sur IGT Challenge
Esuri Golf Field
VOLTA DE TREINO: 28 de Fevereiro
DIAS DE TORNEIO: 1 a 3 de Março
LOCALIDADE: Huelva, Andaluzia, Spain

12. Esuri East IGT Championship
El Rompido Sur Golf Field
VOLTA DE TREINO: 5 de Março
DIAS DE TORNEIO: 6 a 8 de Março
LOCALIDADE: Ayamonte, Andaluzia, Spain

13. Esuri West IGT Series Final
El Rompido Norte Golf Field
VOLTA DE TREINO: 10 de Março
DIAS DE TORNEIO: 11 a 13 de Março (Pro-Am a 14 de Março)
LOCALIDADE: Ayamonte, Andaluzia, Spain


COM OS OLHOS NO FUTURO

O prize money de cada torneio será determinado pela dimensão do field. Os prémios não serão milionários, mas o objectivo é sobretudo formar jogadores, proporcionando-lhes uma oportunidade de treino regular, em época baixa, com condições de torneio. A entrada em cena de novos patrocinadores, de qualquer forma, poderá vir a aumentar os montantes. A ideia é, dentro de dois a três anos, estar ao nível dos outros quatro circuitos satélites europeus: Euro Pro Tour, Nordic League, EPD Tour e Alps Tour.

Pos/Prize

€ 10.000,00 € 12.500,00 € 15.000,00 € 17.500,00 € 20.000,00 € 22.500,00
1ª € 1.690 € 2.075 € 2.475 € 2,888 € 3.300 € 3.712
2ª € 975 € 1.200 € 1.425 € 1.662 € 1.900 € 2.137
3ª € 575 € 700 € 825 € 962 € 1.100 € 1.237
4ª € 520 € 635 € 747 € 872 € 996 € 1.120
5ª € 476 € 575 € 677 € 790 € 902 € 1.014
6ª € 436 € 525 € 616 € 719 € 822 € 925
7ª € 410 € 492 € 578 € 674 € 770 € 866
8ª € 385 € 462 € 540 € 630 € 720 € 810
9ª € 361 € 432 € 504 € 588 € 672 € 756
10ª € 337 € 413 € 468 € 546 € 624 € 702
11ª € 314 € 373 € 433 € 506 € 578 € 650
12ª € 292 € 345 € 400 € 468 € 534 € 600
13ª € 272 € 320 € 371 € 432 € 494 € 555
14ª € 253 € 297 € 342 € 399 € 456 € 513
15ª € 235 € 275 € 315 € 368 € 420 € 472
16ª € 220 € 255 € 293 € 314 € 390 € 438
17ª € 209 € 242 € 276 € 322 € 368 € 414
18ª € 199 € 230 € 261 € 304 € 348 € 391
19ª € 190 € 218 € 247 € 288 € 330 € 371
20ª € 181 € 207 € 234 € 274 € 312 € 351
21ª € 174 € 198 € 224 € 261 € 298 € 335
22ª € 167 € 190 € 213 € 249 € 284 € 320
23ª € 161 € 182 € 204 € 238 € 272 € 306
24ª € 155 € 175 € 195 € 227 € 260 € 292
25ª € 149 € 167 € 186 € 217 € 248 € 279
26ª € 143 € 160 € 177 € 207 € 236 € 265
27ª € 137 € 152 € 168 € 196 € 224 € 252
28ª € 132 € 145 € 160 € 188 € 214 € 241
29ª € 127 € 140 € 153 € 178 € 204 € 230
30ª € 125 € 135 € 146 € 170 € 194 € 219
31ª           € 127 € 138 € 161 € 184 € 207
32ª           € 122 € 132 € 154 € 176 € 198
33ª           € 117 € 126 € 147 € 168 € 189
34ª           € 112 € 120 € 140 € 160 € 180
35ª           € 107 € 114 € 133 € 152 € 171
36ª                     € 110 € 128 € 146 € 164
37ª                     € 106 € 124 € 142 € 160
38ª                     € 103 € 120 € 138 € 155
39ª                     € 101 € 117 € 134 € 150
40ª                     € 100 € 115 € 130 € 147

FEATURE. J, 8 de Novembro de 2009

publicado por JN às 21:32
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02 Novembro 2009

Tem 20 anos, foi o golfista mais jovem de sempre a chegar ao top 50 mundial – e, se ganhar este ano a Race To Dubai, será também o mais jovem de sempre a chegar ao top 10. Rory McIlroy já andava a ganhar no European Tour numa idade em que Tiger Woods ainda nem sequer era profissional. Hoje, menos de dois anos depois do início da aventura, conduz um Ferrari, viaja de helicóptero entre as ilhas britânicas e apanha um jacto privado para atravessar o mar. Esteve na semana passada no Algarve, para jogar o Portugal Masters – e, ainda antes de se afundar no 30º lugar da classificação, concedeu à J uma entrevista exclusiva em que desmistifica a ideia de ganhar 28 majors ao longo da carreira.

Foi o jogador mais jovem de sempre a chegar ao top 50 mundial. Até que ponto o obceca a ideia de ser também o mais jovem de sempre a vencer a Ordem de Mérito Europeia, agora chamada Race To Dubai?
Bom, para já coloquei-me numa boa posição para consegui-lo. Agora tenho de jogar muito bem nos torneios que falta disputar. Estou confiante que, se continuar a jogar como o tenho feito este ano, terei uma oportunidade.
Que adversários o preocupam mais?
O Lee Westwood, pelas razões óbvias. Mas também o Martin Kaymer e o Paul Casey, que em breve estarão recuperados das respectivas lesões, e ainda o Ross Fisher, com quem joguei um dia destes – e que está a bater muito bem na bola. No fundo, há vários jogadores em tão boa posição para vencer como eu.
Se ganhar, a entrada para o top 10 mundial é quase uma inevitabilidade. Era um objectivo para esta temporada?
Nunca foi uma coisa que me preocupasse muito. Por muito mal que isto soe, a verdade é que, estando no top 50, pode-se jogar qualquer torneio. Estar no top 10 é simpático, mas não muda nada. Ser número 2, número 18 (como sou agora) ou número 50 é igual.
Mas não número 1. É um número que o povoa?
Bom, é óbvio que ser número 1 do mundo é um feito extraordinário. Mas, neste ponto da minha carreira, quero sobretudo melhorar o meu jogo. Ir melhorando devagar e manter-me sempre no top 50 – é esse o meu objectivo.
Se tivesse ganho o Dunhill Links, quase tudo isso estaria resolvido. Foi uma decepção muito grande cair para o segundo lugar final?
Foi uma decepção, não posso negá-lo. Mas o Simon Dyson jogou muito, muito bem. Fez 66 na última ronda, enquanto eu teria de ter feito três pancadas abaixo do par no back nine – e não o consegui. Ele mereceu a vitória. E, para mim, não deixou de ser um bom torneio.
Tem-se debatido muito a possibilidade de mudar-se para o outro lado do Atlântico, concentrando grande parte da sua temporada no PGA Tour. Está inclinado para a mudança?
Não propriamente. Tenho pensado muito nisso, mas neste momento estarei, vá lá, 80% inclinado para continuar na Europa. Ainda não decidi por completo, até porque só tenho de comunicar a minha decisão a 1 de Dezembro. Mas tenho muito tempo para dar esse passo. Na verdade, talvez esta não seja a melhor altura.
Porquê?
Porque há Ryder Cup no próximo ano. Jogar na Europa dá-me mais hipóteses de entrar para a equipa.
Portanto, fica na Europa mesmo ganhando a Race To Dubai – é isso?
Em princípio, sim.
Mas o seu futuro é a FedEx Cup.
Não tenho a certeza, sabe? Acho que o golfe vai virar-se cada vez mais para Leste, para o Extremo-Oriente. Penso que é mais ou menos inevitável que eu me junte ao PGA Tour em alguma altura. Mas não sei se passarei lá o grosso da minha carreira.
A Race To Dubai sofreu mais com esta crise global do que a FedEx Cup. Como sente, neste momento, a atmosfera do circuito?
Bom, não sei o que pensarão os patrocinadores e os promotores. Entre os jogadores, o entusiasmo é o mesmo. Entre sete e dez milhões de prémios, a diferença é pouca. É alguma, mas a verdade é que continuamos a falar de prémios gigantescos. Quem jogar bem vai sempre ganhar muito dinheiro.
Mas também é essa a diferença entre a Europa e os Estados Unidos. “Também” é.
Certo. Mas há coisas que também dependem das pessoas e dos lugares a que devemos lealdade.
Para si, é uma questão de lealdade?
Também. O European Tour foi muito, muito bom para mim. Eu nunca mudaria para os Estados Unidos de ânimo leve, sem regressar ciclicamente para disputar aqui uns quantos torneios por ano.
Sugeriu, numa entrevista, que o seu objectivo de carreira seria ganhar 28 majors. Arrepende-se de ter dito isso?
Foi numa entrevista para o Daily Telegraph, feita pelo meu amigo Michael Vaughn. Estávamos um bocadinho no gozo e eu acabei por dizer que queria ganhar um major por ano entre os 22 e os 50 anos, o que, feitas as contas, dava 28 ou 29. Não foi uma coisa muito séria, para dizer a verdade.
Tem um número na sua cabeça?
Tenho: o número 1. Quero concentrar-me em ganhar o primeiro. Depois logo se vê.
E tem um deadline para isso?
Não.
Sentiu que o PGA Championship deste ano podia ter sido o primeiro?
Na verdade, não. Acabei em terceiro, mas andei sempre nas franjas da disputa. Nunca estive perto de ganhá-lo. Top 3, provavelmente, era mesmo o melhor que eu poderia ter conseguido fazer naquela semana.
Está a tentar baixar as expectativas, com isto tudo?
A sério que não estou. Na verdade, não me parece que alguém alguma vez consiga ganhar 28 majors. Ganhar majors é muito difícil. Veja o caso do Sergio García: é, de longe, um dos melhores jogadores do mundo – e nunca ganhou um.
Deve ser a frase mais vezes ouvida em relação a Rory McIlroy: “Oxalá ele não se torne noutro Sergio Garcia.” Incomoda-o ouvir isso?
Um pouco. O Sergio tem tido uma carreira extraordinária, apesar de nunca ter ganho um major. Conheço-o muito bem e sei que ele está contente com o que tem conseguido. De certa forma, se eu acabar a carreira sem um major mas olhar para trás e encontrar memórias assim, terá valido a pena.
A sério? Ter a carreira de Sergio Garcia, de Lee Westwood ou de Colin Montgomerie, de quem se diz serem “os melhores jogadores do mundo sem um major”, seria suficiente para si?
Sim. Quer dizer…
Vai dizer-me que não se pode colocar a questão assim.
Bom. Quer dizer…
… não seria um desastre – é isso?
É isso: não seria um desastre. Seria uma carreira bastante bem-sucedida.
E dizê-lo não é uma forma de baixar as expectativas?!
Não é. Acho que as pessoas não percebem o quão difícil é ganhar um torneio do Grand Slam… Há tanta gente a jogar bem, tanta gente a jogar cada vez melhor… Não se esqueça de que o Tiger é uma excepção.
É uma obsessão sua, chegar à dimensão de Tiger Woods?
Não. Prefiro tentar ser o melhor Rory McIlroy que puder em vez de tentar ser o próximo Tiger Woods.
Prefere ser o melhor Rory McIlroy de sempre, em vez de um Tiger Woods menos bom do que o anterior.
Precisamente! Se eu ganhar metade dos torneios que ele já ganhou, incluindo metade dos majors que ele já ganhou, já terei tido uma das melhores carreiras da história.
E terá ganho também mais de 500 milhões de dólares…
E terei ganho também mais de 500 milhões de dólares.
Qual é a importância do dinheiro para si? Quer dizer: tem um Ferrari, anda de helicóptero entre ilhas britânicas, viaja de jacto privado para a Europa continental e para os Estados Unidos – há uma estrela de Hollywood dentro de si, não há?
Bom, vamos por partes. Eu adoro carros. Sempre disse que, se um dia tivesse sucesso, quereria um Ferrari – e, quando as coisas começaram a acontecer, não demorei muito a concretizar esse sonho. Os helicópteros e os aviões são outra coisa… Eu não tenho um avião: simplesmente compro horas de jacto privado. E é apenas para tornar a minha vida um bocadinho menos difícil do que ela seria sem isso. Normalmente, às sete da noite de domingo, poucas horas depois de um torneio, já estou em casa. Não tenho de apanhar o avião comercial a meio da manhã de segunda-feira, chegando já com um dia de trabalho completamente perdido. Esse dia faz muita diferença. E vale dinheiro. Muitos outros jogadores recorrem a este sistema, não só eu. É parte das nossas despesas, é dedutível nos impostos e funciona muito bem.
Responde como se alguém se chocasse com isso. Pelo contrário: as pessoas adoram esse glamour.
Tudo bem. Mas é que eu não vejo isso como uma coisa glamourosa. Sei que tenho sorte em poder fazê-lo, mas é sobretudo uma questão prática.
Mas sente a necessidade de justificar-se. O seu pai trabalhava cem horas por semana, parte das quais a limpar retretes, para poder proporcionar-lhe esta oportunidade – é isso que o constrange?
Talvez seja. Mas uma coisa é certa: uma das minhas maiores ambições foi sempre poder um dia tomar os meus pais ao meu cuidado, como eles fizeram comigo durante todos os anos. E hoje em dia, sempre que posso, levo-os para onde vou. E eles adoram vir comigo. Ainda no outro dia o meu pai acompanhou-me no Dunhill…
Vai comprar uma casa no Dubai – planeia levá-los para lá?
Já comprei. Não vou mudar-me. Nem eles. É um investimento.
Ser uma super-estrela aos 20 anos não o distrai de forma nenhuma?
Acho que não.
Nem sequer por causa das raparigas?
(risos) Bom… Não. Isto é o meu trabalho. Simplesmente não posso deixar-me distrair. É claro que, quando estou em casa, tenho divertir-me. Mas cada coisa a seu tempo.
Mas há tentações, não? Quer dizer: ter blogs de fãs dedicados a nós, escritos totalmente por raparigas – quem pode gabar-se disso?
Tem as suas tentações, claro. Não só por causa das raparigas. Mesmo os sítios onde dormimos, as piscinas, os restaurantes, os bares – há tentações de excessos por todos os lados. Mas quem não sabe resistir-lhes não tem grande futuro.
É por causa das raparigas que não corta o cabelo, não é? Elas gostam desse ar selvagem.
(risos) Eu cortei um bocadinho. Vê?
O que é que aconteceu? Chatearam-no? A PGA deu-lhe finalmente o ralhete que estava a preparar há tanto tempo?
Não. Estava simplesmente grande de mais para o Verão. Ninguém da PGA alguma vez fez qualquer comentário.
A PGA tem discutido a possibilidade de apertar as regras para a indumentária e o aspecto global dos jogadores…
Pois aí está mais uma boa razão para não ser membro do PGA Tour! (risos)
Li o seu tweet sobre a dificuldade no putting. O que se passa?
Não tenho estado bem. Perdi muita confiança nos primeiros dois dias no Victoria, pois os greens não estavam tão bons como nos anos anteriores. E, quando se perde a confiança, é complicado. Mas tudo se resolve.
Até que ponto as redes sociais são importantes para si?
Gosto do Twitter. Não o uso tão bem como o Ian Poulter, que tem mais de 600 mil seguidores (eu tenho só 14 mil), mas é importante para a minha comunicação com os adeptos. É giro interagir com eles.
É o próprio Rory quem escreve?
Claro. E é engraçado receber depois centenas de respostas com sugestões.
Alguma útil?
Bom, há quem diga “Experimenta assim” ou “Experimenta assado”… Uns quantos até sugerem que bata os putts com o driver ou o ferro 3. Mas a maioria diz o mais comum: “Concentra-te”, “Confia em ti próprio” – essas coisas.
O ano de 2008 foi muito importante para os jogadores de vinte a tal anos: Anthony Kim, Adam Scott, Andres Romero, Sergio García… Já 2009 foi bom sobretudo para os adolescentes: Ryo Ishikawa, Danny Lee e, claro, Rory McIlroy. Que mudança de paradigma é esta?
Não se esqueça do Byeong-Hun An, que é chinês, e do Matteo Manassero, que é italiano – e que se tornaram nos mais jovens vencedores de sempre do US Amateur e do British Amateur Championship, respectivamente. Penso que a questão da idade é uma coincidência. Mas não a da proveniência. Na lista de que estamos a falar, há europeus, asiáticos e oceânicos, mas nenhum americano. Por isso digo que o golfe está a virar a Leste.
Há quem especule que a grande rivalidade do futuro será entre Rory McIlroy e Ryo Ishikawa. O que acha disso?
Seria muito interessante.
Dão-se bem?
Muito bem. E com o Matteo e o Danny também me dou muito bem.
E com Anthony Kim?
Melhor ainda. Na verdade, é um dos meus melhores amigos nos vários circuitos. Estou ansioso para a vinda dele para o Volvo World Match Play Championship. Já não o vejo desde o PGA Championship e tenho saudades dele. É uma pessoa formidável.
E com Tiger? Tem o número dele?
Não, não tenho. O Tiger é diferente. Fica na dele. É muito reservado. Já disse muitas coisas simpáticas sobre mim, mas nunca nos sentámos a ter uma conversa decente. Um minutinho aqui, um minutinho ali – e foi tudo.
Espera defrontá-lo na Ryder Cup?
Para já, espero entrar na equipa, coisa que não consigo se continuar a bater os putts assim… (risos)
Por esta altura, já era preciso uma catástrofe para o Rory não entrar. Que esperanças devem cultivar os adeptos europeus, depois da derrota do ano passado em Valhalla?
Acho que vai ser uma equipa curiosa, com uma metade de jogadores experimentados (o Harrington, o Sergio, o Westwood, o Stenson…) e outra de jovens cheios de vontade (eu, espero, e ainda o Kaymer, o Alvaro, talvez o Ross ou o Dyson…). Penso que pode ser uma equipa fortíssima.
E os Jogos Olímpicos – que expectativas tem de participar?
Bom, eu acho que é maravilhoso para o golfe poder entrar. Torna-o um jogo mais global e mais acessível. Mas não é, nesta altura, uma obsessão para mim. Para já, os majors são mais importantes. Mas penso que a ideia vai crescer dentro de mim.
Não gosta de ser politicamente correcto, já percebi.
Não gosto. Mas a verdade é mesmo essa: por enquanto, não estou super-excitado. Daqui a sete anos se verá.
O Eire e o Ulster…
O Eire e a Irlanda do Norte…
Certo, peço desculpa: o Eire e a Irlanda do Norte estão juntos no golfe, como uma só selecção nacional. Que importância tem esta reunião como declaração política?
Digamos que é um tema quente. E, para mim, ainda mais: sempre me senti britânico, mais do que norte-irlandês – e agora não sei por quem hei-de jogar os Jogos Olímpicos, se se proporcionar.
Neste momento, escolheria a Irlanda?
Não sei. Eu diria que sou britânico.
Escolheria o Reino Unido.
Não sei. Em 2016 veremos. Vai ser uma grande questão para mim, nos próximos anos.
Portugal é pré-candidato à Ryder Cup 2018. O que acha do projecto?
Acho magnífico. Primeiro, porque acho que a Ryder Cup devia realizar-se mais vezes na Europa continental. Valderrama 1997 provou como ela pode ser um sucesso deste lado do Canal. Depois, Portugal é um país extraordinário, com uma meteorologia magnífica, excelentes hotéis, belos campos e um número de adeptos todos os anos maior, pelo que me apercebo. Desejo-vos muita sorte. Seria bom para vós e bom para a Ryder Cup.
Dos campos que conhece, qual escolheria?
Conheço poucos: aqui o Victoria, o Amendoeira, o Vila Sol, o Laranjal – pouco mais. Mas tenho a certeza de que haverá um campo suficientemente bom. Se o Belfry pode receber a Ryder Cup, Portugal terá seguramente vários candidatos à altura.
Última questão: é um fã do Manchester United. Como viu a saída de Cristiano Ronaldo?
Nós já sabíamos que ele sairia, mais cedo ou mais tarde. Sempre quis jogar no Real Madrid – e não podia rejeitar mais, até pelo dinheiro envolvido. Foi uma grande perda para nós. Qualquer equipa lamentaria a sua perda. Vamos a ver como é que ele volta agora, depois da lesão no tornozelo…
Nunca o encontrou?
Nunca.
Mas gostava? Tem tantos fãs – também tem de ser fã de alguém, não?
E sou. Do Ronaldo, por exemplo. Ele vem da Madeira, uma pequena ilha, e aprendeu a dominar o star system como ninguém. É um modelo para todos nós, desportistas.

ENTREVISTA. J, 1 de NOVEMBRO de 2009

publicado por JN às 10:21

01 Novembro 2009

“O swing de golfe é como uma mala em que constantemente tentamos enfiar uma coisa mais do que aquelas que ela comporta”, dizia John Updike – e quase sempre tem razão. Mas um dia há em que essa mala como que estica, ajustando-se na perfeição àquilo que queremos lá meter – e então duas coisas são certas. A primeira é que não esqueceremos nunca esse dia. A segunda é que, depois disso, demoraremos muito tempo até voltarmos a recordar-nos de como fizemos para ajustar o seu espaço às nossas necessidades. Do que fizemos para esticá-la, de como conseguimos acondicionar nela todos os objectos de que precisávamos – de como nos foi possível, afinal, manter em razoável harmonia, durante aquelas quatro horas, tudo aquilo que vamos respigando e esquecendo e recordando e tornando a perder ao longo de meses de treino e de suor, de sangue e de lágrimas, de euforias e de desistências e de novas euforias e de novas desistências e de novas euforias ainda.

Aconteceu-me no novo campo do Laranjal, na Quinta do Lago – e eu gosto de acreditar que o lugar não é inocente. Se há algum arquitecto de golfe de que gosto sempre, é de Jorge Santana da Silva – e o Laranjal não é apenas mais uma das suas obras: é talvez a mais bela até ao momento. Limitado no espaço, Jorge Santana conseguiu na mesma criar um longo e desafiante championship, cheio de convites à ousadia e de implacáveis armadilhas. Limitado na flora (pelo menos em comparação, por exemplo, com Amarante ou Viseu), conseguiu na mesma criar um belíssimo jardim, sedutor e sumptuoso, como se cada buraco fosse a misteriosa antecâmara do seguinte – e percorrê-los todos seguidos como que viajar pela tragicomédia de Dante, incluindo os nove círculos do Inferno e os nove céus do Paraíso (e algures, já se sabe, as montanhas do Purgatório, os pântanos e as rosas poéticas, os ventos e as tempestades, os anjos e a própria Beatriz).
Pois, a mim, deu-me Paraíso. Eu estava com o Ramiro, acabadinho de jogar o Pro-Am do Portugal Masters na formação de Retief Goosen – e tinha o ego desfeito. Privilegiado com a oportunidade de jogar ao lado de um dos maiores golfistas do mundo (falo do Retief), havia conseguido fazer tudo o que não se faz: slices e hooks, shanks e tops, triplos putts e duplos bogeys – e, enfim, um resultado que me abstenho de reproduzir aqui, tanto por vergonha como por causa do limite de caracteres. Basicamente, visitar o Laranjal, que eu nunca sequer tinha visto antes, era como subir para cima do cavalo outra vez – e, entretanto, dar um passeio por lugares desconhecidos, a ver se me distraía (e, se algures lá para um dos buracos do fundo se abrisse um alçapão e a terra me engolisse, pois paciência, a verdade é que eu não merecia viver). Naturalmente (agora acendam as luzes de Alerta Gabarolice, por favor), fiz o jogo da minha vida. Reduzido o desejo ao mínimo, quase não falhei um shot, fiz birdie nos par 5 quase todos, salvei pars com up-and-downs milagrosos e saí de cena com um 77 que, ao fim de três anos de golfe, e tratando-se de um campo novo, vale a pena inscrever a marcador grosso na bola de jogo e guardá-la a esta na estante, ao pé dos outros troféus de consolação.
E, no entanto, nunca mais, desde esse dia, acertei um shot. Minto: dois dias depois, no Pro-Press do Masters, das marcas de competição e com o setup do último dia do torneio oficial, ainda fiz bons dois terços de ronda, com muitos greens in regulations e oito pars. Mas o putting abandonou-me nesse segundo dia do Victoria – e, desde então, venho-me arrastando penosamente pelos campos de Lisboa, regressado aos slices e aos hooks, aos shanks e aos tops, aos triplos putts e aos duplos bogeys como se, na verdade, fossem eles a minha natureza. Às vezes ocorre-me: “E se voltasses ao Laranjal? E se fosses ao Montado, ao Montebelo, a Amarante – e se voltasses a um campo de Santana da Silva, à procura dos tercetos de Dante, dos três versos da sua estrofe (como as pancadas de um birdie), dos 33 cantos das suas partes (como o resultado de um bom nine)?”
Não resultaria. “O swing de golfe é como uma mala em que constantemente tentamos enfiar uma coisa mais do que aquelas que ela comporta”, dizia John Updike. Quase sempre é verdade – e, quando não o é, nunca somos nós a decidi-lo. Afinal, é no Purgatório que o barqueiro Caronte encontra Beatriz – e o máximo a que todos nós, amadores ou profissionais, podemos aspirar como morada definitiva é esse sensabor meio termo entre o Inferno e o Paraíso. Simplesmente, às vezes descemos ao limbo, com o que devemos recordar-nos da nossa pequenez; e outras acercamo-nos das portas do céu, com o que temos necessariamente de tornar a convencer-nos de que existe em nós mais golfe do que aquele que conhecemos. Este jogo é assim mesmo: há uma cenoura que caminha à nossa frente, suspensa como um chamariz – e, se às vezes lhe tocamos com um lábio, aproveitando os balanços da caminhada, já não é mau. O resto é paciência e capacidade de sofrer – e, no fim, paz à nossa alma.

CRÓNICA DE GOLFE ("Tee Time"). Jornal do Golfe, Novembro de 2009

 

publicado por JN às 08:57

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Joel Neto nasceu em Angra do Heroísmo, em 1974. Publicou “O Terceiro Servo” (romance, 2000), "O Citroën Que Escrevia Novelas Mexicanas” (contos, 2002), “Al-Jazeera, Meu Amor” (crónicas, 2003) e “José Mourinho, O Vencedor” (biografia, 2004). Está traduzido em Inglaterra e na Polónia, editado no Brasil e representado em antologias em Espanha, Itália e Brasil, para além de Portugal. Jornalista, tem trabalhado... (saber mais)
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